Amanda, carioca de Copacabana, todos os dias acordava bem cedinho, bebericava seu café e, sem mesmo se preocupar se estava ou não com os cabelos no lugar, corria para a praia. Já bem pertinho do mar, sentava-se, fechava os olhos e apenas sentia todo aquele aroma vindo das ondas, que quebravam mansinhas nessa quase aurora. Todos os dias, lá estava aquela mulher sentada na areia, como se todos já soubessem que ela já fosse parte da bela paisagem.
Não fazia muito tempo, porém, Amanda tinha pegado Covid-19. Na época não havia vacinas disponíveis para a população e, mesmo tendo sofrido horrores com o tal vírus, ela conseguiu sobreviver. Quase totalmente recuperada, a mulher retornou para seu apartamento, onde se manteve isolada durante um período. Queria refletir sobre a própria morte, já que quase havia partido desta para melhor. Não exatamente isso, pois quem mora em Copacabana dificilmente irá se deparar com algo mais divertido no outro lado.
Seja como for, os dias foram passando até que Amanda resolveu retomar a sua rotina. Acordou antes mesmo que os primeiros raios solares brindassem a sua janela. Quase queimou a boca com a quentura do café, mas nem ligou. Deixou a xícara já vazia sobre a pia da cozinha e correu para o mar.
Já sentada diante das ondas, Amanda sentiu falta de alguma coisa. Algo a incomodava, mas todos ao redor pareciam não perceber, pois passavam e apenas a olhavam, como que felizes por ter aquela paisagem novamente brindada pela presença tão familiar da Amanda. No entanto, de repente, uma lágrima escorreu pelos seus lindos olhos de um castanho profundo. Ela havia percebido que não conseguia mais sentir aquele cheiro tão característico dos que vivem próximos à praia. Amanda refletiu: “Poucas coisas são mais cariocas do que a maresia!”