O saltimbanco parece que finalmente descobriu sua verdadeira vocação. Ele tentou no Brasil, mas seus elixires milagrosos e receitados pelos pastores do engenho enganaram poucos por muito pouco tempo. Não conseguiu por aqui, mas tem tentado exibir suas toscas habilidades nas feiras, quermesses ou vias públicas dos Estados Unidos. É na terra de Tio Sam que o falso profeta de Curicica busca reciclar suas fórmulas de seduzir os incautos com discursos e trejeitos espalhafatosos, farsantes e bem próximos do charlatanismo político. O adjetivo que abre esta narrativa não é jocoso, tampouco seus sinônimos (pelotiqueiro ou bufão). Na verdade, são pra lá de honestos e absolutamente autoaplicativos.
O pelotiqueiro passou pelo Congresso Nacional, onde chegou por obra e graça do Espírito Santo, e aportou no Palácio do Planalto por conta dos trabalhos criminosos da turma que segue o Capetão até o inferno. Ou seja, de Deus e do Diabo, o cabra só não sabe no rabo de quem segurar nesse momento em que o corpo não está mais fechado. Pelo contrário. Abriu de cabo a rabo, inclusive a caixinha de joias, na qual deveriam estar guardadas somente as camisinhas número menos zero, perfil dos assumidamente imbrocháveis. Portanto, não adiantou nada amar a Deus e a Mamon, figura que, nos escritos rabínicos, significa dinheiro, em sentido restrito, e posses, em sentido amplo. Ele fugiu e está há mais de um mês sem a mulher, perdeu o capital político, o prestígio, o eleitorado e, ao que parece, esqueceu até o rebolado.
Pois bem. Após tudo que produziu contra o Brasil, Cebolinha Troca Letra e seu entorno não podem imaginar outra coisa que não seja o cadafalso. Depois de tanto mal à imagem do país e muitos desgostos às pessoas que sofriam, principalmente as vítimas de seu deboche durante a pandemia, ele não merece outra coisa senão o esquecimento e o abandono de boa parte dos quase 49% de eleitores que ainda acreditaram nele em 2022. Despudorado, destemperado, destrambelhado, desalojado, (des)empoderado, desgovernado, o homi acaba de conquistar num novo e honroso título: desajoiado, Como dizem os poetas do absurdo, algumas coisas da vida não têm preço, mas têm troco. Didaticamente, todo castigo vem a galope, montado em um cavalo furioso e sem estribos.
A fala e o choro são livres, mas o ouro das joias das arábias não é de tolo. Tolo é quem acreditou no discurso de que Lula era ladrão. Não vamos entrar no mérito, mas sobrou “pórvora” para o terrivelmente honesto. O valor real dos balagandãs do sheik saudita (R$ 16,5 milhões) daria para comprar vários triplex iguais aos creditados na conta penal de Lula. No entanto, para o falso alquimista é legal transformar chumbo em ouro e perfeitamente justo tentar fazer da sociedade plural um grupo singular de cidadãos patéticos, marcados pelo ódio e com valores sombrios e nada republicanos. E o que sobrou do mito de araque? Longe do cercadinho e das varandas embandeiradas, está com a boca escancarada, cheia de dentes, esperando Xandão chamar.
Peço licença ao mestre Raul Seixas para também me avaliar como um sujeito chato e que não acha nada engraçado esse negócio de um monte de ouro para uma dama de copa. No cume calmo do meu olho que vê, fico pegando no pé de quem, em nome da União, ganhou umas joinhas sem graça e não quer devolver. Mas como ficar em silêncio se, ainda que seja um menino birrento, nunca buli com o que é dos outros. Eu devia estar contente com tudo, porque não votei e jamais votaria nele. Entretanto, confesso abestalhado que estou mesmo é decepcionado. A razão da decepção é não conseguir mais ir tranquilo com a família ao Zoológico dar pipoca aos macacos. Tenho medo de ser abduzido pelo disco voador pilotado por aqueles que, apesar de doutores, padres, pastores ou policiais, só usam 10% de suas cabeças animais.
São os mesmos que acham que contribuem com sua parte para o nosso belo quadro social. Pobres coitados! A estes devo lembrar que quem ajuda um coitado acaba ficando no lugar dele. Esse povo da terrível honestidade se elegeu em nome da probidade e com discurso anticorrupção, mas fez tudo igual ou pior. E eles ainda se acham diferentes. Para sorte daqueles que nunca acreditaram no Rolando Lero denominado mito bufão, quem nasceu para figurante nunca vai roubar a cena. No máximo, alimentar o ego com algumas joias que insistentemente nos faz pensar no que há em comum entre um camelo e o camelô. Enfim, tudo indica que o saltimbanco do Cerrado virou camelô das arábias.
*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978