José Escarlate
A EBN era um celeiro de casos curiosos e engraçados. Desde o folclórico José Aldo Palmeira, figura amiga e bom repórter, com casos da época da Agência Nacional, até tempos mais recentes. Um deles é o do técnico em som, Carlos Humberto Cunha, um baiano boa praça, figura especial, mas que gostava de um tragos.
Certa vez afastei-o das viagens por ter bebido além da conta, quando o presidente Figueiredo foi à Bahia. Ficou quase um mês na geladeira. Sabia que aquele dinheirinho das viagens ajudaria nos sustento de suas três mulheres e seis filhos.
Dia de pagamento na EBN, as três mães se reuniam na porta da sede da EBN esperando o pecúlio do Cunha. Eram amigas e conversavam muito. Um dos filhos do Cunha, o Pedrinho, era meu afilhado de batismo. Ele descia, risonho, beijava as três mães e as crianças, fazendo uma festa danada. Depois, pegava três envelopes, entregava um a cada uma e ainda fazia um série de recomendações, despedindo-se. Beijinhos prá lá, beijinhos prá cá.
Eu acompanhava aquele lance. Um dia, surgiu uma viagem importante para Manaus – todo mundo queria ir a Manaus, pela diária dobrada e pela Zona Franca. Era a Cúpula dos Presidentes dos Países da Bacia Amazônica, no majestoso Hotel Tropical. Preparando a cobertura, coloquei o Cunha na lista.
Ele era um dos melhores técnicos da empresa. Antes, mandei chamá-lo à minha sala e recomendei. “O senhor vai voltar a viajar, mas qualquer deslize ou sinal de bebida alcoólica, e estará fora para sempre”. Não me contive e ainda assinalei: “Depois do presidente embarcar de volta e você passar todas as fotos e matérias, pode beber o rio Amazonas. Todinho!” Cunha é saudade. O coração matou-o.