Entrevista/Rosilene Souza
‘Desafio é a principal inspiração para escrever’
Publicado
emMineira, natural de Itabira, Minas Gerais. Mas, desde os 11 anos reside em Belo Horizonte (ela se considera belorizontina e não itabirana, a ponto de evitar falar sobre a cidade onde nasceu. Ela é a escritora Rosilene Souza, que cresceu com a cabeça nas nuvens, viajando na imaginação, sendo a leitura seu passaporte para o imaginário.
Apreciadora voraz das artes, descobriu na escrita – que é uma forma de expressão artística – uma maneira de expressar seus devaneios (ora tímidos, ora distraídos). Desde 2008, vem arriscando nas palavras. Palavras estas que circulam em um universo autêntico, autoral, apropriativo, dinâmico, fantasioso, vivido. É um misto de fantasia digladiando com a realidade que dependendo da leitura resulta em um poema.
Rosilene concedeu entrevista via e-mail ao Café Luterário. Leia os pincipais trechos:
Como a escrita surgiu na sua vida?
A escrita sempre esteve presente na minha vida, seja através da leitura literária e/ou acadêmica. Quando criança, apreciava a leitura do livro “Rosinha Chinesa”. Gostava de ler as ilustrações e imaginar escritas outras.
De onde vem a inspiração para a construção dos seus textos?
Vem das leituras de ontem e de hoje, das músicas que ouço, das exposições que visito, das peças teatrais que assisto, dos concertos musicais que aprecio, das danças/performances que aplaudo, do cinema que contemplo, da arte que produzo, da minha experiência de vida. e por fim, da forma como experiencio, interajo, percebo, olho, vejo e relaciono com o mundo.
Como a sua formação ou sua história de vida interferem no seu processo de escrita?
Penso que não tem como separar a sua história de vida da sua escrita. Ambas estão interligadas. A interligação vai aparecer através de pitadas de fantasia, humor, mistério, terror etc. Tudo vai depender do “perfil” do texto, do público e do ânimo do autor no momento da escrita.
Quais são os seus livros favoritos?
Leio de tudo um pouco. Não tenho preferência. Penso que a(s) preferência(s) delimitam, empobrecem e sufocam as pessoas, principalmente as pessoas que transitam no universo das artes (independente do segmento artístico). Destaco: “Cartas a um jovem poeta” – Rainer Maria Rilke. Este livro marcou a minha história. Despertou o meu olhar míope para o mundo.
Quais são seus autores favoritos?
São tantos, que fica até difícil enumerá-los, até porque os consideramos como amigos. Mas, vou citar alguns: Honoré de Balzac, Émile Zola, José Saramago, Richard Zimler dentre outros.
O que é mais importante no seu processo de escrita? A inspiração ou a concentração? Precisa esperar pela inspiração chegar ou a escrita é um hábito constante?
DE-SA-FIO! Preciso ser desafiada para escrever.
Qual é o tema mais presente nos seus escritos? E por que você escolheu esse assunto?
Fantástico/mistério. Os textos que escrevo possuem uma aura de mistério. Gosto de provocar o leitor. Despertar possibilidades outras. Deixar o apreciador de leitura questionando o(s) possível(is) finais.
Para você, qual é o objetivo da literatura?
Apresentar formas outras de ler, interagir, interferir, perceber, olhar e ver a si mesmo, o outro e o entorno, como também é uma maneira de encontrar respostas para nossas indagações, ou ainda, re)interpretar a existência, a história, a vida.
Você está trabalhando em algum projeto neste momento?
Estou tomando coragem.
Quais livros formaram quem você é hoje? O José Seabra sempre cita Camilo Castelo Branco como seu escritor predileto, o Daniel Marchi tem fascinação pelo Augusto Frederico Schmidt, e o Eduardo Martínez aponta Machado de Assis como a sua maior referência literária. Você também deve ter as suas preferências. Quem são? E há algum ou alguns escritores e poetas contemporâneos que você queira citar?
Vários livros contribuíram e continuam contribuindo para a minha formação literária, desde os infantis (amo ler/ver os livros infantis. Penso que são de uma potência, criatividade sem limites. Fico estarrecida como, ainda hoje, muitos pais não descobriram a magia do livro infantil e não os apresentam para os seus filhos), passando pela literatura asiática (amo), africana, árabe, européia (estou dando um tempo), judaica, latina e brasileira (à parte).
Como é ser escritor hoje em dia?
Na era da reprodutibilidade tecnológica (parafraseando Walter Benjamin), ou seja, redes sociais tem que ser um apaixonado pela escrita/palavra e/ou um herói despretensioso. Humilde o bastante para não se iludir com o número de apreciadores de sua escrita (que pode resumir somente em você ou uma “multidão” de leitores atentos ou não – aqueles que seguem a manada – mercado) e muito corajoso para não se decepcionar com a venda ou não de seus livros.
Qual a sua avaliação sobre o Café Literário, a nova editoria do Notibras?
Penso que o Café Literário e o Notibras estão de parabéns em ser um espaço democrático que abarca os escritores e aspirantes da palavra. É muito importante ter pessoas que investem em pessoas que produzem Arte (uma vez que a literatura também é uma arte. A arte da palavra). Parafraseando a frase “quando não há público, não há espetáculo”, quando não há leitores, não há escritores, quando não há espaços que investem em cultura/arte, não há público que circule nesses espaços (virtuais e/ou físicos). Pressuponho que vocês estão no caminho certo. Vida longa ao Café Literário.
Tem alguma coisa que eu não perguntei e você gostaria de falar?
Agradecer a oportunidade e o espaço que o Café Literário e o Notibras proporcionam aos escritores.
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Minicurrículo da entrevistada
Graduada em Artes Plásticas e Comunicação Social. Participo de exposições, mostras e feiras de Arte. Tenho trabalhos artísticos e literários publicados em livros coletâneas literárias: “Do corpo ao corpus”, coletânea organizada por Edna Domenica. Palhoça, SC: Rocha Soluções Gráficas, 2022; “Ninguém escreve por mim” coletânea organizada por Claudio Carvalho. Rio de Janeiro, RJ: edição Cassiano Silveira, Tão Livro Editora, 2024; Noturno, fotografia – livro Antologia Fotográfica – Cidades em tons de cinza; O audiovisual no processo de ensino-aprendizagem. In: Maria Antonieta Pereira; Luiz Fernando Ferreira Sá; Marcelo Chiaretto; Anderson Higino. (Org.). Dez anos formando leitores: literatura, política e teorias de rede. 01ed.Belo Horizonte: Linha Editorial Tela e Texto, 2008, v. 01, p. 195-206; O uso didático de obras audiovisuais. In: Anderson Higino; Clarisse Barbosa; Maria Antonieta Pereira. (Org.). Formando leitores de telas e textos. 01ed.Belo Horizonte: Linha Editorial Tela e Texto, 2007, v. 01, p. 31-43; revistas Ensaio Visual: Entre a fantasia e a realidade, Revista Trajanos; Ensaio Visual – Revista SPHERA: Habitações do Encanto; Revista Manifesto Blecaute; Ensaio Visual – Histórias que não me pertencem! – Série Sim! – Revista (DES)TROÇOS #4; Ensaio Visual – distorções de mim! – Revista Tangerine #10; Revista Cultural Traço (fotocolagem) – ainda temos tempo!; (in)VISÍVEIS TATUAGENS (poesia) – Revista Alcatéia – 7ª edição/; Sem título I e II (ilustrações) – Revista Alcatéia – 6ª edição e catálogos Sem título, fotografia selecionada – VIII Salão de Artes de Itabirito Regional – Itabirito, Ouro Preto e Belo Horizonte. Oh-fícios,fotografia classificada no Prêmio Lewis Hine–O trabalho e os trabalhadores. Premiada no Festival do Minuto 2022, com o gif Defoque!