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Mocinhos ou bandidos?

Desaparecem as provas da escola do professor Robinson

Publicado

Autor/Imagem:
Ka Ferriche

– Juninho, quê que você tá lendo?

– Uma revista do meu pai… de sacanagem!

– Deixa eu ver, deixa eu ver!

– Então fecha a porta, Fernandinho, minha mãe não pode saber. Eu roubei do cofre dela.

– Vixe, Juninho, é sério? Você roubou mesmo, roubou sua mãe?

– Ah, Fernandinho, nem parece que você já tem essa idade. Todo mundo sabe que todo mundo rouba minha mãe. Até meu pai meteu a mão no cofre dela.

– Você é muito esperto. Ninguém te pegou até agora?

– Claro que me pegaram, Fernandinho, aquele bedel desgraçado da escola, o Japa, entrou na sala de aula cedinho, revirou minha mochila, achou tudo que eu tinha roubado dela.

– E aí?

– Aí eu fiquei de castigo dois anos, trancado no quarto com cheiro de bosta.

– Nossa, Juninho, que castigo, hein… ainda bem que acabou, né mesmo? Você não devia continuar roubando a sua mãe. Se fizer isso, vai voltar pro castigo.

– Fernandinho, o castigo não acabou. Eu só não fico trancado no quarto, mas agora não posso sair de casa. A culpa é do meu pai, ele que roubava a minha mãe e eu só fiz a mesma coisa. Se não fosse o Japa, filho de uma égua, ninguém ia descobrir. Sabe o Zé?

– O Zé… …o DT Fon? Aquele que mata aula, burro pra cacete, não passa em nenhuma prova? Sei.

– Sabe o carequinha da primeira sala? Um metido, canhoto, andava colado no Gabirú que foi expulso da escola? Um abestado que vive babando o Hugo, o Nicolau…

– Sei.

– Agora os dois só andam juntos. Quando um leva porrada, o outro defende, tipo casalzinho, hehehe. O DT Fon é o mocinho da escola, virou representante de classe, e o carequinha é quem escreve o ditado pra ele. São parceiros daquele pessoal do fundão, que põe medo em todo mundo, ameaça a galera o tempo todo, não faz o dever de casa, toma a carteira do professor, toca o horror na escola. Ninguém mexe com eles. Não comem ninguém, não têm idade pra isso, só pegam minha mãe.

– Eu sei, mas você não tá pensando em…

– Não, não estou pensando em nada. Eles são amigos de uns caras da pesada, do Marquinhos, do Gil, do Dinho, os caras que detonam as aulas, rasgam os livros, somem com as provas. Mas agora só estou pensando em fazer as pazes com minha mãe, até copiei um verso que vi em algum lugar, pra mandar pra ela. Diz assim: “Nossos bosques têm mais vida, nossa vida, no teu seio, mais amores”. Não é lindo? Achei a cara dela…

– Sim, ela vai chorar…

– Ela já vive chorando. O novo diretor da escola vai ter trabalho com essa turma. Fernandinho, você que é estudioso, o que é escroque?

– Juninho, escroque é aquele que toma as coisas dos outros, que frauda, que é desonesto, que engana. Desculpe dizer, mas é assim… …tipo você. Pô, uma hora você diz que tem mocinho na história, depois diz que tem bandido? Ou o bandido é também mocinho?

– Deixa pra lá, Fernandinho, você é honesto e estudioso demais pra entender. Um dia você vai fazer sucesso, passar em concurso, virar celebridade. Nem vai poder ser mais meu amigo. Mas fique ligado com esses caras. No caso da minha mãe, coitada, já está acostumada a ser estuprada…

– Então vamos ver a revista, Juninho, antes que chegue alguém!

– Dá uma olhada…

– Eita, essa não é a sua mãe, Juninho, toda estropiada, coitada?

– Sim, é ela, mesmo assim ainda é uma das dez mais ricas do planeta. Só que todo mundo dorme com ela, cada um levando uma parte da sua grana pra gastar na balada, bem longe, fora do Brasil, com as mocreias alpinistas e garrafas de Goût de Diamants. Sei por que meu pai escovava os dentes com essa champanhe. E eu aqui de castigo!

– Não fale assim da sua mãe, com tantos filhos merece um pouco mais de carinho, Juninho.

– Esqueça. Quase metade dos filhos não vale nada, Fernandinho, só querem explorar a coitada. Se brincar, até os caras da turma do fundão estão deitando com ela.

– Não acredito… sério? Calma, você está vermelho!

– Agora, só se for de raiva. Olha aí na revista, ela rodeada pelos caras e todo mundo metendo a mão em todas as suas partes. Depois vão dizer que é coisa de paparazzi, que é montagem, você vai ver.

– Como fazer isso, Juninho, ser aluno bad boy tão novinho na escola, mal sabendo escrever, sempre reprovado, que todo mundo odeia, mas que consegue ir pra cama com a sua mãe?

– É que eles têm amigos de amigos do meu pai…

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