Bartô Granja
As mazelas e os desmandos na saúde pública do Distrito Federal e sua quase absoluta incapacidade de retornar ao cidadão o atendimento que ele merece e paga caro, é indiscutível, segundo avaliação da sociedade, maior vítima desse quadro de abandono.
Algumas pessoas, que com sacrifício pagam, além da saúde pública, planos privados – ou seja, pagam duas vezes por um serviço ineficaz -, e começam a ver seus direitos, e também sua dignidade, serem lentamente usurpados.
A denúncia de um leitor de Notibras mostra até onde vão os problemas. E cita como exemplo a Rede D’Or, que entre outras unidades hospitalares é dona do Santa Luzia, localizado no Setor Hospitalar Sul, em Brasília. Ali, aponta um parente de paciente, copiou-se o descaso generalizado, isto é, o que há de pior na rede pública.
Segundo relatos de usuários do Santa Luzia, a gerência do hospital, para economizar alguns “caraminguás”, viola, sem qualquer pudor, a dignidade de pacientes e acompanhantes.
A estratégia de logística de hotelaria do hospital, área responsável por organizar, limpar e repassar aos pacientes e/ou a seus acompanhantes os quartos onde devem ficar os doentes ou pós-operados, só são disponibilizados horas após o paciente dar entrada na unidade hospitalar.
A ideia (segundo empregados da unidade que pediram anonimato por medo de serem demitidos) é evitar ao máximo a ocupação dos apartamentos, de modo a economizar água e energia elétrica, já que é comum os acompanhantes, após receberem as acomodações, manterem luzes, tv e condicionadores de ar ligados.
Com isso, pacientes e acompanhantes são submetidos a um sacrifício desumano, sendo obrigados a permanecerem sentados em bancos e sofás por horas a fio, enquanto aguardam o atendimento de seus parentes.
A vontade de ganhar dinheiro a qualquer custo aparece na hora de cobrar dos planos de saúde. Isso porque, denunciam os pacientes, a conta vai para as empresas como se o paciente tivesse ocupado o apartamento por uma diária inteira, quando na verdade ficou meia diária.
Segundo os mesmo empregados ouvidos por Notibras, a forma de burlar o controle que eventualmente o paciente teria sobre isso é fazê-lo assinar, ou o acompanhante, todos os formulários de prestação de contas do plano de saúde. Essa manobra permite ao hospital lançar na nota uma diária integral, quando na verdade teve gasto com meia diária de hotelaria, ou às vezes até menos do que isso.
Uma pesquisa superficial indica que a Rede D’Or se tornou uma das gigantes na área hospitalar, podendo, assim, impor determinados padrões de atendimento sem sofrer qualquer tipo de represália.
– O grupo encontrou um limbo jurídico que lhe permite agir impunemente, desabafa um integrante da área de auditoria da Amil, que também pediu anonimato.
A questão é simples: se o plano de saúde reclamar do que eles chamam de “rotina de hotelaria corporativa” o plano é descredenciado de toda a rede, o que provocaria um estrago muito grande. Portanto, colocados contra a parede, os planos se submetem a essa rotina de pagar por serviços não prestados sob pena de ficarem impossibilitados de praticamente operarem em Brasilia.
Na outra ponta – acusa um paciente -, está o Ministério Público, que nada faz, quer seja por falta de amparo legal, quer seja por falta de interesse, e como vítima, o usuário-paciente, a quem resta reclamar do fato de gastar em dobro para ter um tratamento de saúde pela metade.
Pelo visto, resume o denunciante, o universo ‘maravilhoso e perfeito’ da gestão da saúde pela iniciativa privada defendido pelo governador Rodrigo Rollemberg e seu secretário Humberto Fonseca, começa a mostrar sua verdadeira face – a de ganhar dinheiro, ainda que fazendo agonizar a dignidade humana.