Alguma vez você já teve a sensação de não estar sozinha, mesmo não tendo ninguém ao seu lado? Tipo assim… você sabe que não tem ninguém próximo em um raio de mil metros, mas aquela sensação incômoda fica te rondando… e por mais que tente, não consegue se livrar da impressão de que tem alguém te observando. Era assim que Marilia se sentia, às vezes… e isso a incomodava. Quer dizer, não era exatamente a sensação de estar sendo vigiada, mas sim os surtos de medo que, inexplicavelmente, tomavam conta de seu ser… Ficava tão apavorada, que tentava se enfiar no primeiro buraco que achasse, para se esconder e esperar que aquela sensação ruim passasse. O problema maior era quando simplesmente se perdia em lugares onde não tinha como isso ocorrer. Ou então, quando tinha a sensação de ter visto algo que jamais poderia ter visto. E isso a incomodava…
Várias vezes ela passou por situações que não tinha como explicar… se falasse para alguém o que tinha visto, ou passado, provavelmente a chamariam de doida varrida. Por exemplo, uma vez, passeando por uma rua, um pouco longe de seu caminho habitual, avistou uma lebre pastando tranquilamente em um terreno baldio. Até aí, tudo bem. Que mal há em avistar uma lebre devorando alegremente o capim em um terreno? Fora o fato de que esses animais são extremamente ariscos, e fogem à menor aproximação de um ser humano, nenhum mal, não é mesmo? Acontece que essa lebre era um tantinho… diferente! Tinha uma estatura não muito condizente com a que estamos acostumados a ver.
Marilia tinha um metro e sessenta de altura… e o animal em questão era até um pouco maior que ela… bem, podemos dizer que realmente não era uma visão muito comum de se cruzar, embora nada tivesse de sinistro ou coisa e tal. Tanto é que a moça achou o… bichinho… engraçadinho. Não chegou perto dele, pois estava morrendo de pressa para um compromisso, já estava um pouco atrasada. Quando à noite, na escola, comentou com seus conhecidos sobre o animal que avistara, o que mais ouviu foram comentários galhofeiros. A moça ficou chateada com a atitude de seus amigos, e resolveu deixar pra lá, não comentar mais nada com o seu grupo. Algum tempo depois, ao caminhar para sua casa, depois de descer do ônibus, sentiu um baque forte em seu pulso esquerdo, como se alguma coisa tivesse vindo de encontro a ela. O problema é que não havia nada nem ninguém ao seu redor. Apenas e tão somente ela… sim, desta vez Marilia ficou um pouco preocupada. E, se não fosse a dor em seu pulso, causada pelo impacto com coisa nenhuma, ela se esqueceria rapidamente deste incidente.
Um belo de um dia, dormindo tranquilamente em sua cama, Marilia acordou de repente. E não era para menos… sentiu um forte baque em seu rosto, como se alguém houvesse lhe dado um soco bem aplicado.
O… murro… foi tão forte, que quebrou um de seus dentes… sim, a garota ficou apavorada, pois não conseguia entender o que se passava… e aí ganhou uma continha não programada no dentista, para restaurar o dente quebrado… ainda em seu leito, em outra oportunidade, enquanto entregue aos braços de Morfeu, foi acordada bruscamente, ao ter a sensação de estar flutuando no espaço. Mas não era uma sensação boa, na verdade, era uma experiência apavorante. A garota sentiu-se flutuando sem mais nem menos…de repente começou a subir, sem controle algum de seu ato… no desespero começou a gritar por sua mãe, além de rezar todas as orações que conhecia… então lenta, suavemente, começou a descer das alturas em que estava e suavemente, como uma pluma, sentiu-se novamente deitada em sua cama, com sua mãe na cabeceira a perguntar-lhe o que havia acontecido…
Uma outra vez, ao chegar em casa um pouco mais cedo, esta estava vazia…seus pais haviam saído. Abriu a porta da sala, entrou e, como a casa estava toda escura, resolveu ir direto para seu quarto. Passou alguns minutos e então do nada, começou a ouvir o som da televisão, que ficava na sala. Pensando que alguém tivesse chegado, levantou-se e foi até lá, para ver quem era. Ficou surpresa ao notar que tudo estava apagado e não havia nada ligado ali… o silencio imperava por todo o ambiente. Um pouco intrigada com o que se passava, retornou ao seu quarto. E novamente ouviu o barulho da televisão ligada. Novamente foi à sala e, quando constatou que tudo continuava como antes, não teve dúvidas… resolveu esperar seus familiares chegarem do lado de fora. Sentou-se em um banco perto do portão e ali ficou, até que umas duas horas depois seus pais chegaram. E qual não foi a sua surpresa ao ver seu irmão mais velho sair pela porta da sala… na verdade, a surpresa foi dos dois, pois nem um tinha visto o outro, embora os dois estivessem lado a lado por vários momentos…
Sim… Marilia ficou apavorada. Mas resolveu nada falar, pois sabia que as pessoas ao seu redor não a compreenderiam. E assim foi tocando a vida, de incidente em incidente, até que começou a creditar tudo o que não fosse plausível como fruto da imaginação, e passou a se considerar como ateia… se viveu mais tranquila? Não. Mas sempre que algum evento inexplicável lhe acontecia, tratava de creditar à sua imaginação fértil, e tentava esquecer o ocorrido…