Minha mãe sempre tinha uma frase pronta. A melhor de todas nem era a que me lembrei hoje. Seja como for, é a única que me veio à mente.
— Adelaide, minha filha, tem dia que é melhor nem sair de casa.
Por que estou dizendo isso? Bem, acordei com uma daquelas vontades que, vez ou outra, me invade de uma forma, que meu marido até desconfia.
— Não é possível, Adelaide!
— O que não é possível, Júlio Augusto?
— Que você esteja grávida novamente.
— Não diga bobagem, homem! Já se esqueceu que fiz laqueadura?
— Mas vá que…
— Impossível! Só se eu fosse parir o novo Jesus Cristo, pois nem me lembro da última vez que você compareceu.
Para não deixar meu esposo ainda mais constrangido, fui providenciar o almoço de domingo. Não era o que eu queria, mas, como mamãe dizia, tem dia que é melhor nem sair de casa.
Pois bem, lá fui eu, logo cedo, ao mercado. Só queria fazer músculo ensopado com abóbora e quiabo. Não tinha abóbora, o açougueiro não estava, ia demorar 15 minutos. Para piorar, uma maluca pulou na minha frente na fila. Pra quê? O único pedaço de músculo foi vendido justamente para ela.
Gente, que ódio! Acabei comprando filé mignon, que pedi para cortar em cubos. E aqui estou, diante do fogão, preparando estrogonofe. Que droga! Só queria um simples ensopado com abóbora e quiabo.
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Eduardo Martínez é autor do livro 157 Contos e Crônicas por um Autor Muito Velho’
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