Carolina Paiva, Edição
Nem todo mundo sente-se à vontade para fazer selfies. Geralmente, isso acontece por timidez, porque a pessoa não quer se expor demais, ou ainda por não gostar de alguma parte do rosto. Em muitos casos, é o sorriso que incomoda – e isso tem ajudado os cirurgiões-dentistas no processo de recuperação da saúde bucal e da estética dental.
Na opinião do cirurgião-dentista Airton Alves da Nóbrega, “essa tendência de tirar fotos de si mesmo em vários lugares diferentes e em vários momentos do dia ainda vai durar por um bom tempo, até porque a indústria tem aperfeiçoado os recursos da câmera fotográfica embutida no aparelho celular. Soma-se a isso a disponibilidade de vários aplicativos para melhorar as imagens e as redes sociais ? que transformam um acontecimento corriqueiro num evento visto e curtido por muita gente”.
No ano passado, foi publicado um estudo realizado em Ohio, nos Estados Unidos, em que as pessoas utilizavam o telefone celular para gravar um vídeo enquanto escovavam os dentes. Como geralmente os indivíduos não são supervisionados por um profissional enquanto fazem sua higiene bucal, essa iniciativa ajudou muito na correção de pequenas falhas no processo e resultou em grandes ganhos para a saúde e o sorriso. Os participantes, inclusive, aumentaram o tempo de escovação durante o período em que estavam gravando os vídeos e isso acabou sendo incorporado à sua rotina.
Nóbrega acredita que, para os cirurgiões-dentistas, as selfies dos pacientes também podem ser consideradas instrumentos de trabalho. “As selfies são bastante úteis, também, durante tratamentos dentários, já que facilitam a comunicação entre paciente e cirurgião-dentista. É cada vez mais comum, por exemplo, que um paciente solicite pequenos ajustes estéticos muito depois de ter deixado o consultório, mais precisamente depois de tirar uma selfie. Aliás, ele nem espera pela próxima consulta, enviando a foto em tempo real por aplicativo de celular. Essa integração se mostra como um desafio e uma vantagem muito grande para os profissionais da Odontologia, já que tudo está mais claro e mais exposto a críticas”.
É fato que a moda das selfies, que na maior parte das vezes mostra a pessoa sorrindo, vem aumentando cada vez mais as exigências estéticas, estimulando e valorizando os cuidados com o sorriso e, como desdobramento, com a saúde oral. “Se, antes, simetria e proporção não eram uma questão relevante para muitos, agora a situação é outra. Aumentou o número de pacientes que buscam melhorar a estética do sorriso. Sendo assim, cabe a nós atuar como mediadores, indicando o tratamento mais adequado e dentro das possibilidades de investimento do paciente. Há pessoas que já foram submetidas a vários tratamentos de canal, que têm implantes e, portanto, não são boas candidatas ao clareamento. Nestes casos, avaliamos cuidadosamente quando indicar uma lente de contato dental, uma prótese parcial ou total para estabelecer um sorriso saudável e harmônico”, diz o especialista.
Para ele, ninguém deve ficar obstinado por um sorriso perfeito na selfie. “O impacto visual do sorriso não resulta somente da aparência individual de cada dente, mas da harmonia do conjunto, de como os dentes se relacionam entre si. Simetria e proporção ainda são parâmetros importantes da beleza de um sorriso. Mas não é tão simples definir o conceito de sorriso ideal, já que as pessoas têm características muito pessoais em relação à largura e ao comprimento dos dentes, além do arco que formam. É importante valorizar o que cada paciente tem de melhor e ressaltar a beleza do sorriso de modo a atingir um resultado bem natural. Só assim o paciente continuará a fazer suas selfies com alegria”.