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Desejo mórbido pelo poder acabou em confissão de culpa

Brasília (DF), 30/06/2023 - O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, durante sessão que retoma o julgamento da ação (Aije nº 0600814-85) que pede a inelegibilidade de Jair Bolsonaro e de Walter Braga Netto, candidatos à Presidência da República nas Eleições 2022. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Defenestrado da vida pública até 2030 – isto se não for para a reclusão -, Jair Bolsonaro está de mágoa até a alma sadomasoquista e tirânica. Sozinho, deve ser abandonado até pelo queridinho de ocasião Valdemar Costa Neto, o ex-poderoso dono do PL. Pelos demais (des) bolsonaristas já foi há tempos. Salvo da masmorra pelo memorável voto de Benedito Gonçalves, o general Braga Neto foi o último a abandonar o barco lotado de vendilhões e de mercenários, mas que fez água muito antes do esperado naufrágio. Pelo sim, pelo não, o militar pulou da nau para não entrar na lista fúnebre daqueles que tristemente marcharam a favor do mito e contra o Brasil.

Talvez não queiram saber, mas é a lei de causa e efeito. Quem com cuspe ataca, com cusparada será atacado. Imaginem os que ferem com ferro. É a tal história do beijo amigo se transformando no escarro do suposto inimigo. Considerada irreversível pela maioria dos brasileiros desde que ainda era hipótese, a inelegibilidade parece ter agradado muitos que um dia fecharam com os defensores do caos. Prova disso é que, durante os quatro dias de votações no Tribunal Superior Eleitoral, não houve uma manifestação nas ruas ou em frente ao TSE em favor de Jair Messias.

Preocupante? Claro que não. Embora desesperada, a turma percebeu a tempo que contra fatos não há argumentos capazes de alterar o resultado do jogo. Nem na família sem poder a notícia surpreendeu. O acontecimento marcante no clã foi o anúncio do casamento da filha solo de Michelle Bolsonaro. E nós com isso? Que pelo menos a moçoila escolha melhor. E tenha um destino menos comprometido. Pois bem, quem não conseguiu se salvar, não se salva mais. Braga Neto escapou por pouco, mas o mesmo não ocorrerá com os colegas de farda Mauro Cid e Jean Lawand Júnior, ambos coronéis do Exército e parceiros na troca de estudos e de mensagens golpistas pelo celular.

Ambos estão pela bola 7, como também estão todos os envolvidos, direta ou indiretamente, com o quebra-quebra de 8 de janeiro, entre eles o senador enganador, mentiroso e manipulador Marcos do Val. Como disse no início da narrativa, a lista do buraco negro nas mãos do ministro Alexandre de Moraes, é extensa e só cresce. Além daqueles que, voluntária ou involuntariamente, desapareceram na poeira do Cerrado, já viraram zumbis Regina Duarte, Abraham Weintraub, ex-presidente Fernando Collor, o ex-deputados Deltan Dallagnol, Eduardo Cunha, Roberto Jefferson e Daniel Silveira, o ex-ministros Onix Lorenzoni, Milton Ribeiro e Marcelo Queiroga, o ex-presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, o advogado Frederick Wassef e, apesar do mandato, Damares Alves, Carla Zambelli, Eduardo Pazuello, Ricardo Salles e Osmar Terra.

Seria a reedição às avessas da Lista de Schindler? Provavelmente, sim. Cidadão tcheco, naturalizado alemão, o milionário Oskar Schindler, a pretexto de empregá-los em sua “fábrica”, salvou a vida de mais de mil judeus/poloneses durante o Holocausto da Segunda Guerra Mundial. Foi um dos maiores casos de amor à vida da história mundial. Não é o caso do catálogo de Bolsonaro, na qual só havia – e há – ódio e um desejo mórbido pelo poder a qualquer custo. Deu no que deu. Como diria o velho aforismo da língua portuguesa, nem tudo que reluz é ouro. Ou seja, nem tudo que parece ser precioso ou verdadeiro, realmente o é. Que a advertência seja uma lição para o ex-juiz e senador Sérgio Moro, o próximo da lista.

Concluindo, o desejo mórbido pelo poder acabou em confissão de culpa. O próprio mantenedor do sonho odioso de comando absoluto mostrou ao Brasil e ao mundo a que tipo de líder estávamos entregues. Como o poder sem autoridade é crueldade, no caso em questão está claro que, na mesma proporção em que foi comprado, o poder do mito foi tirado. E que ele vá para bem longe do Brasil.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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