Desempregado que faz bico em táxi devolve mala com 140 mil esquecida no carro
Publicado
emDa Redação com o G1
Há fatos nada rotineiros que servem de exemplo para toda a sociedade. É o caso do ex-funcionário público Laércio Aquino, já viveu de bicos como porteiro, office boy e vendedor. Hoje, se considera desempregado. É taxista em meio período e se vira para pagar as contas do apartamento onde mora na Ilha do Governador, Zona Norte do Rio.
Na última quinta-feira (11), revela o G1, ele foi surpreendido quando deixou dois passageiros no Aeroporto Santos Dumont, no Centro, e percebeu que um deles esquecera uma mala no carro. Os pertences, com uma série de equipamentos fotográficos, foram avaliados em R$ 140 mil e haviam sido esquecidos no banco detrás do carro.
Com o olho colado no retrovisor e no guarda municipal que fica de plantão na entrada do aeroporto, Laércio só se deu conta da bagagem quando já estava com um passageiro no carro. Então, começou uma peregrinação para encontrar o dono. Antes de publicar a foto da mala perdida em uma rede social, o taxista deixou o outro passageiro na Urca, voltou para o Santos Dumont e procurou o desmemoriado. Nada.
Voltou para casa, tentou dormir, não conseguiu e, de madrugada, publicou uma mensagem no Facebook (veja na imagem abaixo). Pelo sotaque dos passageiros, desconfiou que o dono do equipamento era paulista e tentou alcançar, através da postagem, qualquer um que morasse em São Paulo. De manhã, um colega encontrou alguém que se identificava como o dono.
“Para ele [o passageiro] foi a glória”, conta Laércio, que quis se certificar de que não tinha ninguém se passando pelo dono. “Fiz questão de entregar pessoalmente, para saber se era ele mesmo. Tem muito picareta por aí”, ele diz.
Os dois se encontraram em Copacabana, na Zona Sul, onde estava o passageiro esquecido. De lá, partiram para o apartamento de Laércio — com o taxímetro ligado, é claro — para buscar a mala. O paulista agradeceu e o presenteou com um livro: “O poder da Kabala”. Dentro dele, outro presente.
“Falei que estava desempregado, que o carnaval foi difícil. Não fiz o gesto por valor nenhum, mas não podia negar [alguma contribuição]. Quando abri o livro, percebi que tinha o valor do meu aluguel. Eu entregaria [a mala] por nada. O que me motivou a me devolver foi minha índole. O que recebi da minha mãe cultivo até hoje e passei para o meu filho. Tenho 52 anos, não sou mais garoto. Na minha vida quero ter só o que é meu”, conta.