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Desfecho do caso Marielle renova imagem do Brasil das bananas

A perplexidade de pelo menos dois terços e meio da população brasileira com o desfecho do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes comprova a tese mundial de que o Brasil é mesmo uma piada como nação séria. Também me fez ficar sério por alguns dias. Não é para rir, mas como explicar à comunidade internacional que os mandantes do brutal crime são três agentes públicos. E não são quaisquer servidores do povo. Um é deputado federal eleito, outro é delegado especial de polícia e o terceiro é conselheiro de contas de um importante estado como é o Rio de Janeiro. É ou não é uma brincadeira de morrer de rir.

Suas excelências, como devem ser chamados em suas ordeiras, mas controladas comunidades, são muito bem pagos e, com apoio do dinheiro e da estrutura pública, montaram um super esquema de poder paralelo, batizado por leigos e não leigos de milícia. É o fim de um país que há décadas luta para alcançar o Primeiro Mundo? Não, mas estamos bem próximos disso, principalmente se dependermos do outro meio terço da sociedade, aquele grupo que tem orgasmos pelas mentiras e prazer mórbido pelas mazelas. É a indefensável turma do quanto pior, melhor.

Será que fomos incluídos na máxima popular de que pau que nasce torto morre torto? Aí é o nosso fim, pois de Pedro Álvares Cabral até hoje o Brasil é pura sacanagem. Yes, nós temos bananas! E temos para dar e vender. Com todo respeito à massa, não tenho pudor algum em denominar de bananas podres, além das numerosas autoridades que se locupletam com o crime, os brasileiros que preferem as facilidades das lorotas. Como nada que dizem ou fazem, eles não assumem que acreditar em verdades dá muito trabalho. Por conta da omissão recorrente desse meio terço, o Brasil jamais será sério. Semana passada, por exemplo, o prefeito Eduardo Paes lançou o filho de um dos assassinos de Marielle a vereador. Pode? No Brasil, pode tudo, inclusive matar e ser deputado.

Ouvir e não condenar a desfaçatez de um delegado de polícia é sinônimo de aceitar sua palhaçada como homem público. Designado por decisão superior para chefiar a Polícia Civil do Rio de Janeiro, o delegado bandido chamou para si o “comando” das investigações de um crime que ele mesmo “meticulosamente” planejou. Curiosamente, Marielle e Anderson foram executados um dia após à posse do delegado na função, para a qual foi escolhido a dedo pelo então interventor na segurança do Estado, general Braga Netto, o mesmo que trabalhou para golpear o Brasil no dia no de janeiro de 2023.

Consumada a criminosa empreitada, o impostor da lei ainda teve a cara de pau de participar do sepultamento da vereadora, de quem se dizia amigo, consolou familiares da vítima e, com o cinismo de um “patriota” servil, prometeu agilizar as buscas pelos assassinos. Não fosse ele quem é, não precisaria sequer de um passo para isso. E o que dizer do deputado federal e do conselheiro do TCE-RJ? Nada além do que já disseram. Malfeitores históricos da cidade do Rio, conseguiram mandatos sequenciais para a Câmara de Vereadores, Assembleia Legislativa e Câmara dos Deputados com o clássico apoio daqueles que têm medo de acreditar em verdades.

Guardadas as devidas proporções, são os moucos que, por exemplo, se calam diante da liberdade provisória de Daniel Alves e do tempo que a Justiça levou para prender Robinho, duas ex-intocáveis estrelas do futebol nacional e mundial e, hoje, duas párias da sociedade. Aliás, para eles, para os envolvidos no assassinato de Marielle e Anderson, para os deputados que adiaram a votação sobre a prisão de Chiquinho Brazão e para todos os que atentaram contra a democracia, não basta a exclusão. São desclassificados, fora da lei e assim devem ser tratados por todos os brasileiros de bem. Perdão pelo sincericídio, mas dizer que o Brasil não é um país sério é o reflexo muito nítido de sua população, particularmente daquele meio terço que referenda qualquer blefe como presidente da República.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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