Salve Xandão
Desfile de 8 de janeiro leva Unidos do Capetão para segundo grupo
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emDepois de quatro anos de mentiras e uma avalanche de fake news geradas, a seu pedido, por familiares e seguidores, Jair Bolsonaro enfim produziu três verdades e uma nova mentira simultâneas. Em uma entrevista ao norte-americano The Wall Street Journal, ele disse, semana passada, ter ficado surpreso com a derrota para Lula. E a surpresa teve como razões o apoio maciço do agronegócio, dos evangélicos, dos donos das armas e do povo, associado ao resultado positivo nas urnas eletrônicas de alguns de seus apoiadores e de boa parte dos colegas do Partido das Lágrimas, o PL do senhor dos anéis Valdemar Costa Neto, aquele que tem folha corrida em lugar de ficha partidária. Pois bem, vamos aos fatos.
A mentira foi o suporte popular que ele continua jurando que teve. Após algumas décadas de vida, é a primeira vez que ouço falar que um candidato perdeu uma eleição com esse tanto de apoio. Realmente é um fato inédito. Acredito que ele tenha ficado surpreso, mas o povo não. Os 60,3 milhões de votos de Luiz Inácio não deixam dúvida de que o brasileiro estava cansado das mirabolantes lorotas do capetão. Sobre as verdades, não é novidade o adjutório de quem se acostumou às mamatas e a torcer contra o que é bom para o Brasil. Agronegócio, evangélicos e portadores de armas, particularmente os milicianos, apostaram a vida na vitória do mito que imaginaram eterno. Perderam e terão de pagar pelos prejuízos que, via patriotas imbecilizados, causaram ao país.
A novidade é que ele ainda não havia tornado público seu reconhecimento à inviolabilidade do sistema eletrônico de votação. E isso ficou claro quando ele fala na entrevista a respeito dos votos conquistados pelos colegas eleitos por meio da maquininha que ele tanto questionou. A outra verdade é admitir que tem medo de ser preso caso volte ao Brasil. Ele só está errado quando diz que “uma ordem de prisão pode surgir do nada”. Depois de tudo que sua desexcelência fez ao Brasil e ao povo, não pode ser do nada. E também não merece anistia. Os cerca de 700 mil mortos da Covid-19, os Yanomami mortos por inanição e malária e os milhares de brasileiros atingidos pela fome esperam pela reparação dos homens e pela punição divina.
Depois dessa do capetão, fiquei sem mote para escrever contra os deputados e senadores bolsonaristas que se elegeram com votos digitados nos equipamentos do Tribunal Superior Eleitoral. Até primeiro de fevereiro, dia da posse de suas insolências, acreditei que Xandão e seus pares receberiam um pedido de desculpas. Como isso é demais para os nobres parlamentares, também esperei, em vão, que Damares, Rogério Marinho, Osmar Terra, Ricardo Salles, Marcos Pontes, Sérgio Moro, Nikolas Ferreira, Evair Mello, Bia Kicis, Eduardo Bolsonaro e os generais Hamilton Mourão e Eduardo Pazuello reiterassem a desconfiança nas urnas eletrônicas e abrissem mão do mandato. Não tiveram coragem. O risco é grande, mas agora a Inês é morta. Xandão, não.
Graças a todos aqueles que já passaram pelo TSE, especialmente ao ministro Alexandre de Moraes, o processo eleitoral e as urnas viraram obras de Deus. Hoje, muito mais do que patrimônio nacional e peça do desejo de dezenas de países, as máquinas de votar são objetos de culto e de veneração. São coisas sagradas. Primeiro, porque são seguras, realmente invioláveis e protegidas das heresias bolsonaristas. Depois, porque, imunes a fraudes, “impediram” que o Brasil vivesse mais quatro anos de embuste político. Salve Xandão, o jurado que reprovou o desfile da Unidos do Capetão e tascou zero em todos os quesitos. Por razões óbvias, perdeu todos os pontos em Alegorias e Adereços, Harmonia, Evolução, Comissão de Frente e Fantasias: ninguém gostou do conjunto da obra terrorista de 8 de janeiro. Voltou para o segundo grupo, sem chance de tapetão
*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978