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Desfile golpista vazio mostra que Bolsonaro está abandonado

Um golpe? Um golpe personalizado? Que loucos embarcariam em um desvario desses? Um levante, também conhecido por insurreição, motim ou sublevação, é coisa séria e não pode – pelo menos não deve – ser articulado, formatado, tampouco efetivado no seio de uma única família. Além de potencial profissional, um golpista tem de ter argumentos para justificar o rompimento democrático. Também precisa de apoio popular, respaldo do empresariado, sinalização da totalidade das Forças Armadas e, sobretudo, conivência das potências econômicas do planeta, notadamente dos Estados Unidos, China e Europa. E nosso mito dispõe desses instrumentos? Poucos acreditam.

E não será “comandando” um descabido, patético e insensato desfile militar como o verificado na manhã desta terça-feira (10), na esvaziada Esplanada dos Ministérios, que ele conseguirá golpear a democracia, tampouco aprovar o voto impresso. Se a ideia foi ostentar força, o injustificável ato militaresco tensionou ainda mais o cenário político e afastou definitivamente do governo das pessoas de bem. Fora o presidente e capatazes, não havia autoridades de peso no desfile. Bolsonaro está só. Só ele não percebe. Então, muito mais do que um ruído esganiçado, o sonhado motim talvez não passe de um forte comichão nas vias orais. Algo como ter certeza de que é mais fácil vociferar mentiradas para fanatizados apoiadores.

Oficialmente, um golpe de estado costuma ocorrer quando um grupo político renega as vias constitucionais para chegar ao poder e apela para métodos de coação, coerção, chantagem, pressão ou mesmo emprego direto da violência para desalojar um governo. Curioso é que, no caso brasileiro, a revolta, se efetivada, seria para manter um governante e sua família. Nada mais do que isso, na medida em que faltam propostas, programa de governo e efetivo trabalho em benefício do país e de sua gente. Em 1964, quando os generais decidiram assumir o comando do Brasil, supostamente haviam motivos, projetos e pessoas capazes de levá-los adiante. Hoje, com todo respeito à patente, temos um capitão alijado dos quadros do Exército e depois absolvido pelo Superior Tribunal Militar, cujo desempenho está muito abaixo do conceito de ruim.

Portanto, golpe para que? Não ganho para criticar o presidente da República, mas, passados dois anos e meio de gestão, no que ele trabalhou? Governar realmente não é seu forte. No entanto, inegavelmente é um craque em gastar recursos e usar o precioso tempo de um mandatário em “reuniões” com apoiadores no cercadinho do Palácio da Alvorada. O problema é que até para isso falta criatividade. O aproveitamento desses encontros diários é limitado à repetição de ameaças e xingamentos contra alvos que já estão de saco cheio de ataques inescrupulosos, desconexos e mentirosos. Resumindo, o resultado é pífio, pois até as emas que passeiam pelos jardins palacianos já conhecem o texto.

Resta pesquisar para saber se a claque de apoiadores é sempre a mesma ou não. Após a estrondosa derrota da PEC do voto impresso, o problema da vez é descobrir qual será o tema das próximas conversas entre Bolsonaro e seus seguidores. Enquanto investigamos, temos de afirmar, até com relativo pesar, que um político que não tem capacidade de aceitar críticas ou de lidar com o contraditório com a leveza exigida pela função não pode pretender o exercício de cargos com o peso e a importância de presidente da República. Imagina tentar uma reeleição. Raivosamente, o atual ocupante da principal cadeira do Palácio do Planalto não conhece esses predicados.

Nunca na história deste país um mandatário governou desrespeitando, xingando e ameaçando tanto seus adversários como agora. Assim como suas excelências de toga, um chefe de nação precisa ter nível, discernimento, sensibilidade e, principalmente, limites. A vida e a história punem. Aos que não dispõem desses atributos, as citações em futuros livros serão limitadas. No máximo um cercadinho no canto de uma página em branco. Talvez uma charge pilotando um tanque de guerra sem capacete.

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