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Desmentidos deixam mentirosos políticos muito mais atordoados

Candidato desde que tomou posse na Presidência da República, o presidente esqueceu de um fundamento básico da política: obras ou feitos que não são mostrados não conseguem alavancar seu dono. A consequência é a escassez de votos necessários para garantir mais um mandato. No português que todos entendem, quem não se mostra positivamente só é visto negativamente. Claro que temos de excluir as exceções. No entanto, estas têm se mostrado insuficientes para manter o poder de sua excelência. Simples assim. Para quem passou boa parte do tempo de presidente tentando culpar as maquininhas de votar pela derrota desenhada lá atrás, os equívocos deliberados no controle da pandemia até que não provocaram os estragos imaginados. Conseguiu levar a decisão para o segundo turno.

De qualquer maneira, uma reeleição que lhe parecia favas contadas começou a escorrer pelos dedos quando o protagonista do cenário político preferiu abandonar o script tranquilo e seguro do Executivo, optando por ringues sobre os quais tinha pouco ou nenhum conhecimento. O Judiciário e alguns ministros foram sua perdição. Passou longo inverno brigando e xingando adversários no plenário da Câmara dos Deputados, arena infinitamente menor do que o país de negros, LGBTs, nordestinos, desempregados, famintos e principalmente de Alexandre de Moraes, Edson Fachin e Luís Roberto Barroso. Foi justamente esse o povo “convidado” publicamente para lutar em seu desfavor. É o mesmo povo que perdeu a paciência com os achincalhes, desaforos e adjetivos pra lá de pejorativos dos seguidores da denominada “purificação do Brasil”. Pois é o mesmo povo que emprestou alguns milhões de votos para o adversário.

Parece que sua excelência também esqueceu de um outro conceito imprescindível para quem depende da consagração popular para se manter “vivo”: a política de boa vizinhança. Dizer, ainda que nos bastidores ou no cercadinho, que a nação brasileira carece de depuração é não conhecer o país que dirige. Miscigenado, misturado e dividido desde sua descoberta em matizes, raças, credos e condições sociais, o Brasil talvez precise – e com urgência – de uma “mundificação”, mais especificamente da expurgação de brasileiros que só pensam em si e que trabalham exclusivamente pela consolidação de suas benesses e pelo crescimento de seus bens. São aqueles que não medem consequências para manter o status quo.

Fazem qualquer negócio, inclusive afirmar no rádio e na televisão que bom é o ruim que se acha superior apenas porque coloca Deus acima de tudo e de todos. Falam do outro como se fosse o satanás em pessoa. Entre outras asneiras, são capazes de afirmar – e afirmam – que o partido do adversário não investiu em educação, preferindo tornar o concurso universitário mais fácil, de modo a facilitar a entrada do pobre na universidade. Citam a “importação” de supostos médicos cubanos como mais uma mentira do outro governo. Todavia, não são capazes de referência alguma ao negacionismo da pandemia de Covid 19, vírus tratado como uma “gripezinha”, mas que gerou a morte de quase 670 mil brasileiros. O fato é que, naquele tempo, boa ou ruim, tanto a saúde quanto a educação eram acessíveis a todos.

E hoje? O que foi feito desses dois segmentos fundamentais à vida? O problema dos que mentem são os fatos que os desmentem. Se o governo do mal nada produziu de útil para a sociedade, o que fez o governo do bem para corrigir os erros do passado? Nada! Passou três anos e dez meses fazendo campanha pela reeleição. E só! É mentira? Aliás, mentira por mentira, de quem é o maior embuste? Deste ou daquele? Dizem os mais velhos que inveja é uma forma de desqualificar o mérito alheio. É a mais pura verdade. Só a ignorância e a inconsequência, associadas ao fanatismo de fundo de quintal, podem explicar o endeusamento de um e a satanização de outro. Na hipótese mais ponderada, são farinha do mesmo saco. Não tenho formação na Sorbonne, Cambridge ou Harvard. Entretanto, adquiri com a vida um perfil mais agudo de sapiência. Sobrevivo graças a ele.

Quero dizer que, como eu, ninguém precisa ser sábio ou rico para perceber as intenções de uma pessoa. Basta que observemos suas atitudes e gestos. A experiência diz para que nos afastemos dos que só se apresentam na primeira pessoa. Pior são aqueles cujas prioridades se resumem à pátria e à família. Em qualquer governo menos desumano, a ordem deveria ser priorizar as pessoas, independentemente do viés político-partidário de cada uma. Eis uma das principais razões da inveja maldita. Mesmo travestido de satanás, a essência do outro governante era o combate à fome. Buliu onde não devia, mas suas pautas eram sobejamente sociais. Pelo sim, pelo não, vale a pena levarmos para a cabine de votação o lema perpetuado por Mahatma Ghandi: “Você nunca sabe que resultados virão de sua ação. Mas se você não fizer nada, não existirão resultados”. Pensemos nisso.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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