Pelo menos 400 mil crianças com desnutrição aguda grave podem morrer na região de Kasai, na República Democrática do Congo, palco de ações de grupos armados que deixaram milhares de mortos e mais de 1 milhão de deslocados desde meados de 2016, alertou nesta terça-feira (12) a Organização das Nações Unidas (ONU).
As crianças, menores de 5 anos, sofrem de desnutrição aguda e podem morrer em 2018 se não houver uma intervenção urgente, advertiu o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) em comunicado. A situação de segurança se estabilizou em algumas partes da região e alguns deslocados começaram a retornar aos seus lares, mas a situação humanitária continua crítica, uma vez que mais de 750 mil crianças na região sofrem de malnutrição e 25 áreas estão em situação de crise nutricional com limites de emergência.
“Essa crise nutricional e de insegurança alimentar na região de Kasai continua com o deslocamento de milhares de famílias que viveram durante meses em condições muito duras”, descreveu o representante do Unicef no Congo, Tajudeen Oyewale.
Mais de 1,4 milhão de pessoas foram obrigadas a fugir de seus lares neste ano devido à insegurança. “A verdadeira dimensão do problema será vista de fato quando a população retornar às suas casas em algumas áreas onde a situação de segurança melhorou e os serviços de saúde começaram a funcionar novamente”, acrescentou Oyewale.
Não é esperado que a grave situação de insegurança alimentar melhore antes de junho de 2018, uma vez que a perda da temporada de plantio neste ano fez com que as famílias tenham pouco que colher em sua própria terra e nada para vender nos mercados.
Além disso, cerca de 220 centros de saúde foram destruídos, saqueados e danificados, o que torna mais difícil proporcionar tratamento e atendimento médico, e aumenta o risco de propagação de doenças transmissíveis como o sarampo.
O Unicef denuncia que recebeu apenas 15% dos fundos necessários para responder às necessidades nutricionais dos menores em 2017. A região de Kasai é palco de um conflito que explodiu em meados de 2016, quando o líder da milícia Kamuina Nsapu foi morto pelo Exército e seus seguidores se lançaram contra o governo para vingar sua morte.
Aos 20 anos de conflito armado e violência, se soma o atual anúncio de que as eleições presidenciais serão realizadas em dezembro de 2018, apesar da pressão da oposição para que ocorram ainda este ano.