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Deu a louca nas pesquisas eleitorais para o governo de Brasília

Foto/Reprodução

A (im) precisão das pesquisas eleitorais na disputa pelo Governo do Distrito Federal está dando o que falar. E deixando o eleitor à deriva. É o que se conclui após análise, por superficial que seja, nos levantamentos feitos por instituições distintas em universos e períodos iguais. Os números apontados por um e por outros são infinitamente distantes. Qual o motivo?

Esse desencontro de dados tem virado motivo de chacota. E gerado memes que se espalham como erva daninha pelas redes sociais em dia de Ibope, Datafolha, Bigdata… “Hoje é dia da Independência do Brasil, 7 de fevereiro. Mas, considerando a margem de erro dos institutos de pesquisa, feliz Ano Novo”.

A confusão é tanta, que graduados cientistas políticos não se atrevem a dar opinião sobre os resultados de A ou B. Principalmente quando se aprofunda o distanciamento entre os resultados de um mesmo contingente do colégio eleitoral.

Avalia-se inconcebível, por exemplo, que em um mesmo dia, dentro de uma mesma casa, a tabulação dos números, se colocados na mesma panela, se transforme em água e óleo. Não dão liga e aumentam a desconfiança. E nessa hora vale recordar manifestação de Ciro Gomes: tem instituto que vende até a mãe. Resumindo: quem pagar mais, aparece na frente.

É o caso dos cinco principais concorrentes ao Palácio do Buriti. Eliana Pedrosa, do Pros, navega tranquila em uma pesquisa. Em outra, dá Ibaneis Rocha (MDB). E para surpresa geral, Rodrigo Rollemberg (PSB) passa Alberto Fraga (DEM) que se vê ameaçado por Rogério Rosso (PSD).

Na ponta de baixo, em uma pesquisa, o General Paulo Chagas (PRP) e Alexandre Guerra (Novo) estão tecnicamente empatados com o quinto colocado. Outro levantamento, porém, faz os dois desabarem, ultrapassados por Júlio Miragaya (PT) ou mesmo Fátima Sousa (Psol).

Como numa corrida de bigas, seria de supor que muita gente estivesse emparelhada. O que não se entende é que uma carroça puxada por cavalo xucro pare de capengar e saia lá de atrás para abrir a dianteira de uma reta, como impulsionado por uma dupla puro sangue de um bólido da Fórmula 1.

Fossem o universo e o período estudado diferentes, seria mais fácil explicar esse fenômeno que tem provocado uma verdadeira loucura nos números dos institutos de pesquisa. Porém, quando essas disparidades acontecem em curtos espaços de tempo e com os mesmos eleitores pesquisados, o que acontece? O eleitor pode contar com pesquisas mais confiáveis no futuro?

Além do prejuízo de imagem que os institutos de pesquisa sofrem, as piadas revelam um cenário preocupante para o xadrez político. As pesquisas servem de ferramenta de decisão para eleitores, partidos e candidatos. É comum que o cidadão use os números para tomar decisões cruciais. Mas, como o quadro se entregou ao Deus dará, ao sabor dos ventos, fica difícil confiar nesses levantamentos.

Nas últimas 48 horas o eleitor brasiliense foi surpreendido com três pesquisas. Todas realizadas por institutos sediados em outras capitais. Os números não bateram. Foram uma aberração. Ninguém entendeu nada. Muito menos – e a figura mais importante nesse cenário – o eleitor.

Na noite desta sexta, 28, repórteres de Notibras foram à Rodoviária do Plano Piloto fazer sua própria pesquisa. Os números foram díspares, vindos de pessoas dos dois extremos do Distrito Federal. A ideia era conversar com eleitores para sentir o clima eleitoral. E ouvir do próprio povo sua opinião acerca dos institutos de pesquisa. Mas, como tratou-se de uma consulta informal, fora das regras da Justiça Eleitoral, os dados não podem ser divulgados.

Os depoimentos, porém, podem ser transcritos. Como o de Eleonora Silva, secretária executiva, 38 anos, casada, mãe de dois filhos. Ela tem uma visão clara sobre o processo eleitoral. E Eleonora, surpresa com os últimos números, diz que não condizem, segundo sua opinião, com a realidade.

“Nunca vi um funcionário dessas empresas de pesquisa na minha vida. Aliás, não conheço ninguém que já foi entrevistado por algum desses institutos. Os nomes que de repente aparecem na imprensa como campeões de voto nem de longe são os que eu escolheria”, garante.

Outro eleitor ouvido por Notibras foi o motorista Pedro Gonçalves, 42 anos, casado. Na avaliação dele, as pesquisas são mentirosas. “Eu escuto a conversa das pessoas aqui no ônibus. Raramente alguém fala o nome desses homens que aparecem como favoritos para governador. Tem algo errado com essas pesquisas. Tem algo errado com a política”, completa Pedro Gonçalves.

A literatura dos processos eleitorais mostra erros ainda mais destacados no passado. As últimas eleições, por exemplo, feitas com eleitores logo após o momento do voto, erraram ao estimar os resultados para dez candidatos – entre eles Dilma Rousseff (PT) e Anthony Garotinho (PR) – para mais –, e Aécio Neves (PSDB), Geraldo Alckmin (PSDB) e Rui Costa (PT) – para menos.

Nos Estados Unidos, berço da democracia moderna, um dos maiores erros de pesquisa dos últimos tempos também colocaram em xeque a validade dos institutos. A título de recordação, um respeitado instituto, o FiveThirtyEight, na véspera de o americano ir às urnas, apontou para o mundo que Hillary Clinton tinha 70% das intenções de voto e Donald Trump apenas 30%. O resultado disso é sabido por todos.

Na metodologia empregada por grandes institutos, seleciona-se um universo que costuma variar entre 2 mil e 3 mil pessoas. A amostragem apurada representa a diversidade do eleitorado, com critérios como sexo, idade, região de residência e classe socioeconômica. A partir daí os pesquisadores procuram indivíduos que preencham os critérios. Assim, a cada 100 pesquisas feitas, em 95 o resultado real deveria ficar dentro da margem de erro. Pode-se aumentar esse indicador com uma amostra maior ou mais refinada. Mesmo assim, as estatísticas não batem.

Parece haver, contudo, uma luz no fim do túnel. A rápida democratização da tecnologia pode fazer sumir a preocupação com a qualidade das amostras. Nos Estados Unidos, os institutos fazem pesquisa enviando aleatoriamente mensagens para os celulares dos cidadãos. Assim, têm acesso a um grande número de adultos. No Brasil, estamos perto disso: o percentual de adultos que têm celulares aumentou. Se o público for capaz de entender perguntas por escrito e respondê-las, é de se esperar resultados de pesquisas mais fiéis à realidade do momento político.

Talvez seja este o caminho para que os institutos deixem de ser motivo de piada – e para que o eleitor possa contar com pesquisas sérias, isentas, para a tomada de decisões, sem se deixar contaminar por candidatos que vivem da euforia à beira de um ataque de nervos, fruto da loucura em que se transformou o levantamento de intenção de voto em Brasília.

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