Nos salões etéreos onde habitam os deuses da mitologia árabe e persa, um murmúrio inquieto percorre os ares. Al-Lat, Al-Uzza e Manat, outrora veneradas em desertos de areias douradas, observam com pesar o destino dos filhos da Palestina.
Ormuz, o deus da luz persa, se indigna com a escuridão que se abate sobre Gaza, enquanto Ahriman, espírito do caos, sorri no canto sombrio, alimentando-se do sofrimento que se espalha como veneno na terra devastada.
“O que restará dos homens quando tudo estiver consumado?”, questiona Mithra, o guardião da verdade, fitando os escombros onde um dia existiram lares e risos infantis. Ao seu lado, Baal-Shamin, o senhor dos céus, suspira ao ver as nuvens de poeira que cobrem a cidade em chamas, tornando indistinguível o céu e a terra.
As divindades se reúnem em conselho, preocupadas com a iminência de um destino irreversível. Se Gaza for riscada do mapa, os palestinos condenados ao nomadismo forçado, que legado restará para os mortais? Que lembrança terão da terra que um dia foi lar?
O desalento paira sobre o Olimpo do Oriente, onde os antigos deuses já pouco interferem nos destinos humanos, mas ainda sentem o peso do sofrimento das almas que um dia os invocaram.
Ao longe, ouve-se o rugido de guerras futuras. O caminho do apocalipse se desenha, e os deuses, impotentes, apenas observam. A esperança vacila, e nos ventos do deserto, os lamentos dos inocentes se tornam orações sem respostas.
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Paulus Bakokebas é professor de História Universal