Deuzivaldo, morador da Asa Sul, perto de completar 60 anos, há muito se acostumara com o seu esdrúxulo nome. Na verdade, a palavra mais adequada é que ele, depois de tanto tempo sendo chamado por Deuzivaldo, Deuzi ou até mesmo Valdo, parecia acostumado com aquilo. No entanto, uma coisa que o irritava era aquela barriguinha proeminente, ainda mais depois de ter sido abandonado pela mulher, que o trocou por uma versão mais jovem chamada Paulo Douglas.
De tão deprimido, Deuzi resolveu procurar ajuda psicológica. Marcou a primeira consulta para a semana seguinte. Muito ansioso, começou a comer desenfreadamente, como se aquilo lhe trouxesse algum alívio. No entanto, já na véspera do tão esperado dia em frente ao Dr. Gilmar, eis que ele se olha, completamente despido, no espelho logo depois de tomar banho. Impossível não soltar um “Que droga de barriga!”
Já no consultório, o psicólogo, muito atencioso, convida o Deuzi a se deitar no divã. Este se estica todo, coloca os pés para o alto e, em seguida, começa a tagarelar sobre a sua situação calamitosa. Vez por outra, ele menciona a tão incômoda protuberância abdominal, até que não lhe restam palavras de lamúrias, mas apenas um triste olhar direcionado ao Dr. Gilmar, na ânsia de um alento.
– Deuzivaldo, a vaidade, muitas vezes, é a única força que nos faz levantar.