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Devagar com o prato, mas criminalizar ingredientes não é solução para a obesidade

Hugo Ribeiro

Em janeiro deste ano foi lançado nos Estados Unidos, pela rede ABC, o reality show “Minha dieta é melhor que a sua”, no qual os participantes se dedicam a comprovar que suas escolhas nutricionais são mais eficazes para perder peso que as dos demais. Sucesso de audiência, o programa levou para a televisão uma discussão muito atual também no meio acadêmico: por que algumas dietas funcionam e outras não.

Apesar da premissa que dá nome ao reality, o que o participante vencedor terá, de fato, é apenas o mérito de entender o que melhor se adequa às necessidades e características de seu organismo, e esta é a resposta mais recente da ciência para explicar por que algumas pessoas podem comer de tudo sem culpa, enquanto outras vivem eternamente na briga contra a balança, mesmo seguindo dietas restritas.

Um exemplo recente é o estudo “Projeto Nutrição Personalizada”, divulgado pelo Instituto de Ciências Weizmann, de Israel, que desmistificou algumas “verdades universais” sobre nutrição, ao acompanhar por uma semana 800 pessoas que consumiram cardápios idênticos e apresentaram resultados surpreendentemente diversos.

O foco de avaliação foi o nível de açúcar no sangue após as refeições, um indicador importante, visto que as quantidades excessivas acabam armazenadas como gordura e consistem em um importante fator de risco para diabetes e obesidade, entre outras enfermidades.

Os participantes do estudo foram equipados com pequenos monitores que mediram continuamente seus níveis de açúcar no sangue, bem como registraram tudo o que foi ingerido e seus estilos de vida, incluindo hora e qualidade de sono e prática de atividades físicas. Descobriu-se que os mesmos alimentos afetaram de forma diferentes os níveis de glicose de cada pessoa. E mais: escolhas supostamente saudáveis não foram garantia de índices aceitáveis. Para alguns dos voluntários, comer biscoitos doces resultou em níveis de açúcar menores do que os registrados após o consumo de uma banana.

As variações drásticas mostraram que a mesma dieta não funciona para todos, uma vez que os indivíduos são diferentes entre si. E isso pode ajudar a entender o fracasso mundial nas tentativas de controlar a epidemia de obesidade, que hoje se baseiam em restringir alimentos e fontes energéticas comprovadamente essenciais a todos os organismos. Esses resultados também descredenciam o índice glicêmico –indicador da velocidade com que o açúcar presente em um alimento alcança a corrente sanguínea–,utilizado para avaliar alimentos de acordo com os efeitos no sangue, e levantam dúvidas sobre a confiabilidade de cálculos calóricos, já que a capacidade de extrair energia da alimentação muda de uma pessoa para outra.

Outros estudos, desenvolvidos por entidades respeitadas como o Centro de Pesquisas de Nutrição Humana da Universidade de Newcastle, no Reino Unido, chegaram a conclusões muito similares. Portanto, parece correto concluir que criminalizar ingredientes e pregar sua supressão completa de uma dieta dita “saudável” não são soluções plausíveis para questões complexas como a obesidade e as doenças relacionadas à concentração de açúcar no sangue. Investir em equilíbrio e educação nutricional, para que cada um de nós encontre a dieta que melhor se adequa a si, demonstra-se uma saída bem mais acertada.

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