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Devastação da Amazônia registra crescimento recorde em 3 anos

On a flight from Alta Floresta to Claudia with a view of the rainforest seen during the burning season when large sections of forest are set on fire by farmers to be cleared for soy farming or cattle breeding.

Em ritmo cada vez mais acelerado, o desmatamento na Amazônia cresceu 56,6% nos últimos três anos. Entre agosto de 2018 e julho de 2021, a perda de vegetação nativa foi de 32.740 km², o equivalente ao tamanho da Bélgica, contra 20.911 km² no mesmo período de 2015 a 2018.

É o que comprova um estudo do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), feito a partir de dados oficiais do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações, e divulgado na quarta-feira (2).

A pesquisa conclui que a devastação começou a acelerar no segundo semestre de 2018, como consequência do discurso de campanha de Jair Bolsonaro (PL), favorável à desarticulação da fiscalização ambiental, chamada pelo então candidato de “indústria da multa no campo”.

“A partir desse momento [período eleitoral], fatos de ordem política e legislativa resultaram na atual fragilidade das políticas e das instituições responsáveis pela agenda ambiental, pelas ações de comando e controle, principalmente, na esfera federal”, afirma o estudo assinado por quatro pesquisadoras.

A constatação coincide com a percepção de servidores do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) ouvidos pelo Brasil de Fato.

Segundo a categoria, as eleições foram o ponto de partida para a escalada de violência contra fiscais dos órgãos federais. O capítulo mais recente foi a queima de um helicóptero do Ibama em Manaus (AM), em represália pela expulsão de garimpeiros ilegais do rio Madeira.

Dinâmica do desmatamento
Segundo a análise, a era Bolsonaro inaugurou uma “nova dinâmica” de devastação, mais acelerada e estimulada pelo enfraquecimento da fiscalização, pela anistia a crimes ambientais e pela tramitação e aprovação de retrocessos legais no Legislativo.

A junção desses fatores, segundo as autoras, consolidaram novas frentes de derrubada. Uma dessas frentes é a área de divisa chamada “Amacro”, que envolve 32 municípios entre Amazonas, Acre e Rondônia.

O Amazonas, que ainda tem as mais extensas áreas de vegetação conservada, viu o desmatamento avançar principalmente nos anos de 2020 e 2021. Concentrando 18% da derrubada no bioma, o estado passou do terceiro para o segundo lugar no ranking dos que mais desmataram, atrás do Pará (43%), líder desde 2017, e à frente do Mato Grosso (16%).

Alvos preferenciais
Metade do desflorestamento, segundo o Ipam, ocorreu em terras públicas, sendo a maioria delas — 83% — pertencentes à União. A maior perda de vegetação se deu em territórios classificados como “Florestas Públicas Não Destinadas”, onde houve aumento de 85%. Essas áreas são as mais vulneráveis, pois têm pouca ou nenhuma presença estatal relacionada a monitoramento ou fiscalização.

Ao calcular a proporção entre área desmatada e tamanho do território, o Ipam concluiu que as Terras Indígenas foram mais afetadas, com alta de 153% entre os triênios analisados pela pesquisa. Já nas Unidades de Conservação, onde a ação humana é regrada pelo Estado, houve crescimento proporcional de 63,7%.

Tem solução?
Frear o avanço da destruição da floresta é possível, conforme as pesquisadoras, mas exigirá um conjunto amplo de medidas políticas, econômicas e sociais.

Entre elas, restabelecer o Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento da Amazônia (PPCDAM), que reduziu o desmatamento no bioma em 83% entre 2004 e 2012, mas foi engavetado por Bolsonaro.

Segundo a pesquisa, a recuperação também exigirá ampliar a assistência técnica e os incentivos econômicos para agricultores familiares e aumentar a segurança territorial de áreas protegidas e o apoio a economias de base florestal.

“Por fim, é essencial o engajamento do Legislativo na rejeição de projetos de lei que acabam por estimular a invasão de terras e a ilegalidade nas atividades rurais, como mineração, extração madeireira e pecuária, principalmente em um momento de governança ambiental enfraquecida”, finaliza o estudo.

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