Sol já dando trégua, aquela gente de cidade do litoral nordestino começava a preencher os vazios na praça adiante mesmo em dia de folga do padre, que até deixava aberta a porta da igreja para esmola de última hora. Sem missa, os pecados corriam soltos. Nada que confissão sincera não pudesse resolver depois.
Henriqueta, viúva há quase dois anos, resolveu surgir na praça. Era a primeira aparição da mulher desde a missa de sétimo dia do finado Carmelo, precocemente convidado aos 43 para compor o trem que, mais cedo ou mais tarde, somos obrigados a entrar. Sem o esposo, sobrou o luto à pobre Henriqueta, que não admitia nem anáguas que não fossem pretas.
A mulher, agora aos 36, sombrinha na mão, sem filho nem cachorro para cuidar, havia recebido o convite das amigas para um passeio. Relutou, mas aceitou. E, apesar das reticências, o sorriso, ainda que tímido, surgiu após rever Solange, Carmem e Sílvia, cada uma com um saco de pipoca na mão.
Enquanto aquelas quatro colocavam a conversa em dia, eis que, ali adiante, um grupo de homens também se confraternizava. João, Alberto, Pedro, Francinaldo e Gomes, o mais velho de todos, mas que ainda não havia chegado aos 60. Entre uma pitada e outra, Pedro chamou a atenção dos companheiros para as quatro mulheres. E, tirando o Gomes, solteirão convicto, todos os demais eram casados.
— Quem diria, meus amigos! Quem é vivo sempre aparece! Olhem lá a Henriqueta.
Todos viraram para ver a viúva, o que despertou a atenção das quatro amigas. Não tardou, elas comentaram sobre aqueles homens. A partir daí, enquanto os homens fofocavam de um lado, as senhoras palpitavam do outro.
— Quando é que a viúva vai colocar um pouco de cor naquele vestido?
— Podia até arrumar um novo marido. Que tal investir na viúva, Gomes?
— Vou pensar no caso. Viúva nova, foi pouco usada pelo marido.
Gomes deu aquele sorriso maroto e, todo garboso, lançou um olhar para Henriqueta. Ela abaixou o rosto, talvez envergonhada pelo atrevimento do homem. Sílvia, percebendo a situação, quis colocar um pouco de lenha na fogueira.
— Por que você não sai com o Gomes, Henriqueta?
— Ih, dá não!
— Ué, por que não dá?
— É que o diabetes montou naquele ali. Acabou com o homem.