Lula engasgado
Diferente do Vaticano, as fumaças no Planalto não anunciam boas notícias

Não fossem todas as atenções dirigidas à morte do Papa Francisco, o gigantesco esquema de fraude no INSS que levou ao afastamento do presidente da instituição, Alessandro Stefanutto, teria caído como uma bomba sobre um governo que ainda tenta recuperar os níveis de popularidade e se apresenta como defensor dos trabalhadores. Como revelam as investigações da PF e da CGU, o esquema que vinha operando desde 2019 envolvia a cobrança de mensalidades ilegais de aposentados e pensionistas feitas por associações e sindicatos, que juntas somam mais de R$6 bilhões. Além das evidentes falhas de controle do INSS, paira a desconfiança de que o esquema tenha sido facilitado por uma rede de corrupção interna.
Um verdadeiro presente de Páscoa para os defensores do Estado mínimo, os adeptos da previdência privada e as forças antissindicais. Sem contar o risco do caso se transformar numa sangria ainda maior caso venha a respingar no Ministro da Previdência Social, Carlos Lupi. A morte do Papa também poupou Lula de ter que gerir a repercussão do ‘não’ do deputado Pedro Lucas Fernandes (União Brasil-MA), convidado para ocupar o Ministério das Comunicações no lugar de Juscelino Filho, que deixou o cargo por suspeita de desvio de emendas.
Evidentemente, a atitude expõe uma falta de confiança da suposta base aliada no próprio governo, fragilizando as relações do Planalto com o União Brasil, que vive uma disputa interna entre a bancada do partido na Câmara e seu cacique no Senado, Davi Alcolumbre, cuja vontade acabou prevalecendo com a indicação de Frederico de Siqueira Filho para o Ministério. Além disso, o caso representa a primeira derrota de Gleisi Hoffmann à frente da articulação política.
A morte do Pontífice contribuiu ainda para esfriar a pauta da anistia na Câmara. Em reunião do Colégio de Líderes, Hugo Motta conseguiu um acordo para isolar o PL e empurrar o tema com a barriga. Assim, deve ficar tudo para semana que vem, incluindo a PEC da Segurança Pública encaminhada pelo governo e o início da discussão sobre a reforma do Imposto de Renda.
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O Boletim Ponto é produzido por Lauro Allan Almeida Duvoisin e Miguel Enrique Stédile para o MST
