Juliana Carreiro
Na última década o número de clínicas de fertilização aumentou muito no Brasil. Sabemos que a ciência evoluiu nesse período, mas com ela cresceu também o número de casais com dificuldade para gerar um filho. A vida moderna, com estresse, ansiedade, sedentarismo e com o adiamento dos casamentos e do momento do casal engravidar, podem, de alguma maneira, contribuir com essa dificuldade, mas de acordo com a nutricionista Denise Madi, autora do livro ‘Mães Saudáveis têm filhos Saudáveis’, “certamente uma alimentação pobre em vitaminas e minerais poderá ser uma das causas da infertilidade entre os casais”.
É claro que quando o casal não está conseguindo engravidar, o primeiro passo é procurar um especialistas da área e fazer todos os exames necessários para descobrir a causa desse distúrbio. Porém, um número cada vez maior de casais têm procurado estes especialistas, mas não têm encontrado nenhuma causa fisiológica que os impeça de ter um filho. É nesse momento que se deve olhar com atenção para a rotina alimentar de ambos. “Dietas muito restritivas, por exemplo, podem prejudicar a formação natural de hormônios. A gordura, ou ‘bom colesterol’, por exemplo, está entre os nutrientes necessários para essa formação e, muitas vezes, mulheres com dietas muito radicais, que cortam de vez a gordura, deixam até de menstruar. Isso já seria um sinal de que o sistema reprodutor pode estar sendo afetado”, continua Denise.
De acordo com o ginecologista, Marcos Moura, especialista em reprodução humana pela USP, “é essencial que a gestante ou futura gestante inclua em sua dieta alimentos ricos em ácido fólico, que auxilia na formação fetal, assim como vitamina B12, vitamina B6, vitamina B2 e também os minerais magnésio, zinco, potássio e ferro, entre outros. Frutas, verduras e legumes são importantes fontes dessas substâncias e ajudam a manter a saúde do corpo em qualquer circunstância. Já os alimentos ultraprocessados, gorduras saturadas, excesso de sal, álcool, açúcar, drogas e tabaco, devem ser evitados, por serem prejudiciais à saúde”.
O papel das frutas, das verduras e dos legumes é determinante para o processo da fertilização. Esses alimentos são ricos em compostos antioxidantes, anti-inflamatórios, antialérgicos e destoxificantes, que exercem papéis importantes para o bom funcionamento do organismo. Também são fontes de micronutrientes imprescindíveis para prevenir possíveis desequilíbrios imunológicos, que podem causar infertilidade. O nosso sistema imunológico se baseia em uma microbiota saudável, ou seja, com prevalência das chamadas ‘bactérias do bem’ na nossa microbiota intestinal. Essas bactérias se alimentam das fibras solúveis, insolúveis e prebióticas, presentes nas frutas, nos legumes, nas verduras e nos cereais integrais. Um sistema imunológico desregulado pode causar doenças auto-imunes, como distúrbios na tireóide, por exemplo, responsável por produzir hormônios que interferem na capacidade de engravidar e de manter uma gestação. Esse desequilíbrio pode ainda colaborar para a proliferação de endotoxinas produzidas no intestino, substâncias que podem desequilibrar o sistema imunológico e causar resistência à insulina, outro fator que colabora com a dificuldade para engravidar.
O excesso de alimentos ultraprocessados, feitos com muito sódio, açúcar, gordura e aditivos químicos e com baixíssimas quantidades de micronutrientes, e a queda no consumo de ‘comida de verdade’, que possui fibras, compostos bioativos, vitaminas e minerais, também podem causar resistência celular à insulina. Nesses casos, o organismo passa a produzir mais insulina do que deveria e esse excesso pode desequilibrar a formação dos hormônios no ovário. Além disso a alta quantidade de insulina pode colaborar também com a chamada ‘infertilidade secundária’, que é a dificuldade de manter uma gestação. Por outro lado, quando esse hormônio está bem regulado, melhora também a formação e a ação dos hormônios masculinos e femininos responsáveis pela procriação.
Os cuidados com a alimentação devem estar presentes na rotina de homens e mulheres que pretendem ter filhos. Segundo a nutricionista, Denise Madi “a composição do esperma muda, em média, a cada 4 meses. A sua produção, mobilidade e capacitação espermática, que determina a sua eficácia, dependem da presença adequada de vitaminas e minerais no organismo”. E de acordo com o Programa dos Mil Dias, da Organização Mundial da Saúde, esses cuidados devem ser mantidos durante toda a gestação e durante a amamentação, recomendada até o segundo ano do bebê. Nesse período acontece um processo chamado de ‘programação metabólica’, que irá determinar, principalmente, o equilíbrio dos sistemas imunológico, endócrino e neurocomportamental, para o resto da vida que está sendo gerada.