Não foi há dois dias – mas a data com certeza foi 30 de outubro. O ano, 2010. Um fato marcante para a política brasiira, quando a economista Dilma Vana Rousseff, candidata do PT, elegeu-se presidenta do Brasil com 55,8 milhões de votos (56,05%) no segundo turno das eleições gerais. Ela tornou-se a primeira mulher a ocupar o cargo, vencendo nas urnas o ex-governador de São Paulo José Serra (PSDB), que obteve 43,95% dos votos. Dilma tinha 62 anos, 40 anos dos quais de militância política.
Teve repeteco quatro anos depois, com a reeleição, ao cortar as asas de mais um tucano. Desta vez, Aécio Neves, de Minas Gerais. Nas duas disputas, “o poste” – numa alusão pejorativa -, defendido por Lula, a líder política enfrentou toda sorte de ataques. Dois anos depois, ela enfrentou um impeachment numa campanha liderada pelo PSDB e encampada pelo PMDB de Michel Temer, eleito vice-presidente. Dilma não foi afastada do Planalto por um impeachment, mas por um golpe parlamentar.
Dilma tem uma trajetória singular na política brasileira, com envolvimento direto em alguns dos episódios marcantes da história recente do Brasil, como a resistência à ditadura, a redemocratização do país e a consolidação de uma ordem política equilibrada entre dois blocos políticos: PT e PSDB.
Dilma nasceu em 14 de dezembro de 1947, em Belo Horizonte. O pai, Pedro Rousseff (Pétar Russev, na língua materna), era um imigrante búlgaro que criou os três filhos com rigidez europeia em Minas Gerais. A mãe, Dilma Jane Silva, era professora.
Dilma eEntrou na política ainda no antigo colegial, na oposição ao regime de exceção instaurado em 1964. Começou na Organização Revolucionária Marxista – Política Operária (Polop), movimento que, na sua origem, era uma espécie de coalizão de dissidentes, com quadros do PCB, do PSB e do trabalhismo, além de trotskistas e outros marxistas. Na Polop, ela conheceu o primeiro marido, Cláudio Galeno de Magalhães Linhares.
Durante a ditadura militar, instaurada entre 1964 e 1985, Dilma ainda integrou a Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-Palmares), outro grupo de esquerda que defendia a luta armada como forma de combater o regime militar. Ela foi presa por três anos (1970-1972), período em que foi submetida a tortura.
Depois de deixar a prisão, Dilma se fixou em Porto Alegre e se casou com o advogado Carlos Araújo. Na capital gaúcha, ela cursou ciências contábeis na Universidade Federal do Rio Grande do Sul de 1974 a 1977. Com a volta de Leonel Brizola ao país após a Anistia, Dilma se filiou em 1980 ao recém-fundado Partido Democrático Trabalhista (PDT). Até 1985, ela trabalhou como assessora de deputados do partido na Assembleia Legislativa do estado.
Com a redemocratização do país, a partir de 1985, Dilma começou a construir sua carreira política. Primeiro, como secretária da Fazenda de Porto Alegre, na gestão do prefeito Alceu Colares (PDT), de 1985 a 1988. “Dilma estava junto com a gente desde o começo das conversas sobre o que a gente queria que fosse o movimento dos trabalhistas”, conta. “Fizemos reuniões para montar nosso plano de governo para Porto Alegre. Grande parte desses programas foi feita na casa dela”.
Em 1987, Dilma foi secretária das Finanças da prefeitura da capital gaúcha, sob a gestão de Collares. Em 1989, virou diretora-geral da Câmara dos Vereadores. Quando Collares foi eleito governador do estado, Dilma passou ao cargo de presidente da Fundação de Economia e Estatística (FEE) do Rio Grande do Sul, onde ficou de 1991 a 1993, quando virou secretária de Energia, Minas e Comunicações.
Com o fim do mandato de Collares, a economista voltou para a FEE, até 1997. Em 1998, Olívio Dutra, do PT, foi eleito governador com o apoio do PDT e ela voltou à Secretaria de Energia, Minas e Comunicações. Mas quando Brizola e o PDT romperam com os petistas, Dilma e outras lideranças do partido no Rio Grande do Sul optaram por deixar o PDT e se unir ao PT de Olívio Dutra. Ela permaneceu no governo até 2002 e participou das negociações do governo do Rio Grande do Sul com o governo federal para gestão da crise energética de 2001, o chamado “apagão” do governo Fernando Henrique Cardoso.
Em 2003, Dilma foi escolhida por Lula para ocupar a pasta de Minas e Energia em seu governo. Ela apresentou um modelo para mudar a regulamentação do setor elétrico, mantendo a presença privada, mas aumentando as funções de regulamentação e controle do Estado. E lançou o projeto “Luz para Todos”, para levar energia elétrica às áreas rurais ainda não atendidas pelas redes principais do país.
Dois anos depois, assumiria o posto de ministra-chefe da Casa Civil, em substituição a José Dirceu, que deixara o governo. Braço direito do presidente Lula em seu segundo mandato, ela foi indicada para concorrer à sucessão presidencial. Como ministra da Casa Civil, conduziu a implantação do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
Com a candidatura impulsionada pela alta avaliação positiva do governo e do próprio presidente Lula — cujo índice de aprovação era superior a 80% — fruto do crescimento econômico com distribuição de renda e da ampliação das políticas públicas na área social — Dilma obteve 46,9% dos votos no primeiro turno, contra 32,6% de Serra e 19,3% de outra ex-ministra de Lula, Marina Silva (PV), que emergia como importante força política.
Dilma deu a volta por cima. Com a volta de Lula, preside o Brics. Não é nada, não é nada, é dona da caneta que faz inveja às maiores economias do mundo.