A presidente Dilma Rousseff pode aproveitar sua viagem aos Estados Unidos, iniciada neste sábado, para falar tudo o que sabe sobre contribuições para as campanhas eleitorais de 2010 e 2014, anunciou Aloízio Mercadante, ministro-chefe da Casa Civil. Mas, resta saber se ela vai falar, respondeu o senador Aécio Neves (MG), presidente nacional do PSDB.
Após decidir não acompanhar Dilma a Washington, Mercadante explicou, em entrevista coletiva, o envolvimento do nome dele em reportagem da revista Veja que listou 18 políticos a quem o ex-presidente da UTC Ricardo Pessoa, preso na Operação Lava Jato, teria dado dinheiro. “A presidente vai falar em breve sobre o dinheiro de origem duvidosa”, disse o ministro.
Dois outros assessores diretos da presidente falaram sobre o assunto antes do embarque para os Estados Unidos. O ministro da Comunicação Social Edinho Silva, criticou o que chamou de “vazamento seletivo” de conteúdo de delação premiada. Ele lembrou que a UTC é historicamente conhecida por fazer doações em campanhas eleitorais a diversos partidos e se mostrou indignado por apenas os repasses feitos ao PT serem alvo de suspeita.
“As doações são públicas – estão lá [no Tribunal Superior Eleitoral]. A UTC não fez doações apenas para a campanha da presidente Dilma e me estranha que as suspeitas sejam colocadas apenas sobre as doações legais da presidente”, destacou.
Já o ministro da Justiça Eduardo Cardozo, esclareceu que o governo não teve acesso ao conteúdo da delação premiada, mas de acordo com o que ele está acompanhando pela imprensa, os valores se tratam das doações legais. “É importante frisar que essa delação está em sigilo legal e que, portanto, o Ministério da Justiça não tem acesso, razão pela qual de imediato nós não podemos afirmar a veracidade que se consta ou não dessa delação premiada”, disse Cardozo, acrescentando que as informações que tem são as da imprensa.
Cardozo ainda destacou que a delação premiada deve ser muito bem analisada, já que um instrumento que traz benefícios ao réu e pode ser usado de forma inadequada. “Temos que entender o contexto em que a delação premiada é feita. É um contexto em que a pessoa quer obter benefícios”, disse. “Pode ser seletiva também nas informações que presta. Isso tem que ser apurado e investigado”.
De acordo com reportagens divulgadas ontem (26) pela revista Veja, Pessoa teria citado, na delação, o nome de 18 pessoas que receberam contribuições dele. Segundo o delator, os repasses, alguns oficiais outros não, foram feitos por receio de perder seus negócios relativos à Petrobras. Na delação, o empreiteiro diz que repassou R$ 7,5 milhões para a campanha de Dilma de 2014.
Entre os que receberam dinheiro, foram citados Edinho Silva e Aloízio Mercadante. Edinho, que atuou como tesoureiro da campanha da presidenta Dilma Rousseff em 2014, confirmou que recebeu R$ 7,5 milhões da UTC, mas ressaltou que em doações lícitas, conforme prevê a legislação. O ministro disse que está constituindo advogado para ter acesso ao documento e que, se as informações da imprensa se confirmarem, ele pedirá para ser ouvido no processo. O ministro acrescentou que pedirá a anulação dos benefícios da delação premiada, caso haja informações falsas.
Felipe Meirelles, com Agências