Agora é votar e aguardar o resultado das urnas. Quem assistiu ao último debate entre os presidenciáveis Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB), promovido na noite desta sexta 24 e estava na dúvida sobre em que número clicar, deve arrastar essa indecisão até domingo 26.
A exemplo de encontros anteriores, pouco se falou em propostas. Enquanto Dilma mirava os governos de Fernando Henrique Cardoso na tentativa de desgastar o adversário, Aécio explorou a corrupção para atingir a petista.
Nenhum dos dois se sentiu acuado. O debate foi morno. Mas teve um momento hilário: como que perdida e visivelmente cansada, Dilma sugeriu a uma eleitora, formada em economia e desempregada, que fizesse um curso profissionalizante para voltar ao mercado de trabalho.
O temor de que Aécio Neves insistisse nas denúncias da revista Veja, segundo a qual o doleiro Alberto Youssef teria dito que a presidente e o antecessor Luiz Inácio Lula da Silva sabiam do esquema de desvios na Petrobras, foi tema superficial, aparecendo apenas no primeiro bloco, após pergunta de Aécio.
A falta de água em São Paulo, Estado governado pelo tucano Geraldo Alckmin, também foi mencionada apenas uma vez, provocada por Dilma.
O tucano abriu o debate com uma pergunta sobre as denúncias de Veja. “A senhora sabia?”. Na resposta, Dilma afirmou que a “Veja” faz “oposição sistemática” a ela e ao PT e fez “calúnia e difamação” com a reportagem publicada esta semana. “E o senhor endossa na sua pergunta (…) A revista Veja não apresenta uma prova”, disse a petista, que afirmou que a publicação tenta dar um “golpe eleitoral”.
“E isso não é a primeira vez que ela fez: fez em 2002, em 2006, em 2010 e 2014, mas o povo não é bobo (…) O povo brasileiro vai mostrar a sua indignação no domingo, votando e derrotado essa proposta que o senhor representa.”
Na réplica, Aécio disse que Dilma deveria se explicar, e não desqualificar a revista. “Não acreedito que acusação a revista seja a melhor resposta. A delação premiada só traz ao réu benefício se tiver prova.”
Depois Dilma mirou a gestão dos dois governos de FHC, que, segundo ela, “deixou nas costas do povo as crises ocorridas nos oito anos de mandato, com arrocho salarial e desemprego”. Em resposta, Aécio disse que, desde o Plano Real (1994), Dilma será a primeira presidente que terminará o mandato com a inflação maior do que recebeu.
“Eu acho que o senhor está mal informado, porque quem deixou o país com uma inflação maior do que recebeu foi o governo tucano, do Fernando Henrique”, respondeu a petista.
“O seu governo afugentou os investimentos e a inflação infelizmente está de volta”, afirmou o tucano. “A situação do Brasil é extremamente grave, candidata, e é preciso que seu governo reconheça isso, porque os mercados, outros países, os brasileiros, já reconhecem.”
No segundo bloco, Dilma e Aécio responderam perguntas de eleitores que se declararam indecisos. Eles foram selecionados pela Globo e acompanharam o debate no estúdio. Os temas abordados por eles foram a alta dos aluguéis, educação, corrupção e previdência. Em função do formato do bloco, houve poucos ataques entre os concorrentes.
O principal confronto ocorreu quando uma eleitora de Vespasiano (Grande Belo Horizonte) questionou os candidatos sobre o combate a corrupção. A petista afirmou que a “lei é branda”, listou medidas que ela propõe para endurecer a punição a corruptos e disse que, em seu governo, a “Polícia Federal investiga”.
Aécio retrucou, dizendo que a maior medida contra corrupção dele é “tirar o PT do governo”. Na resposta ao adversário, Dilma disse que Aécio representa um governo [Fernando Henrique Cardoso] cuja “prática era engavetar todas as investigações.”
Os dois candidatos também trocaram farpas quando uma eleitora de Curitiba perguntou sobre os planos dos concorrentes para a questão previdenciária. Aécio prometeu acabar com o fator previdenciário, medida que achata e posterga as aposentadorias. Dilma retrucou, dizendo que o fator foi criado na gestão FHC. Na resposta, o tucano disse que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva vetou o fim do fator previdenciário.
A falta de água em São Paulo e a corrupção dominaram o terceiro bloco. Dilma questionou Aécio sobre a falta de água em São Paulo. “Quem não planeja, candidato, não consegue enfrentar os desafios que ocorreram, principalmente em um governo.”
Aécio repassou a responsabilidade para o governo federal. “Certamente que houve [falta de planejamento], candidata, e segundo o TCU (Tribunal de Contas da União), do seu governo. Não é apenas em São Paulo, nós estamos tendo em toda região Sudeste a ausência de água e a senhora sabe muito bem, nós tivemos a maior crise hídrica dos últimos 80 anos. Falta de chuva. O governo de SP, diferente do governo federal, buscou fazer o que estava a suas mãos.”
Dilma respondeu que a responsabilidade sobre a água é do Estado. “Nós somos parceiros do projeto do São Lourenço, que é o único que o governo do Estado apresentou. Nós demos o dinheiro para fazer o projeto. E estamos financiando R$ 1,8 bilhão”. Em um momento de descontração, a presidente citou o humorista e colunista da “Folha de S.Paulo”, José Simão. “Eu vou concordar com o humorista José Simão. Vocês estão levando o Estado para ter um programa ‘Meu Banho Minha Vida’, é isso que vocês conseguiram”, disse.
O escândalo do mensalão foi lembrado por Aécio, que perguntou a Dilma se o ex-chefe da Casa Civil do primeiro governo de Lula (2003-2006), José Dirceu, foi punido adequadamente ou “é também um herói nacional?”.
Na sua resposta, Dilma lembrou do mensalão do PSDB, ocorrido em 1998 em Minas Gerais, até hoje não foi julgado. “O senhor Eduardo Azeredo pediu renúncia do seu cargo para o processo voltar para a primeira instância. Há uma diferença expressiva. Houve o julgamento do mensalão ligado ao meu partido. Ah, é necessário dizer que eles estão e foram condenados e foram para a cadeia. No entanto, o mensalão do seu partido, não teve nem condenados, nem punidos.”
A segurança pública foi o tema predominante no quarto e último bloco do debate. Um eleitor indeciso perguntou a Dilma sobre o tráfico de drogas e perguntou qual a proposta para que ela melhorasse essa realidade.
Dilma afirmou que foram aplicados mais de R$ 17 bilhões no combate às drogas, ao crime organizado e ao tráfico de armas. Ela citou os centros de Comando e Controle criados na Copa do Mundo e disse que a experiência pode ser replicada em um eventual segundo governo. Aécio rebateu e afirmou que a adversária não executa os fundos aprovados pelo Congresso Nacional para a área.
Redação com UOL