A vida do governo da presidente Dilma Rousseff no Senado deve ser mais complicada a partir do mês que vem, quando começa uma nova Legislatura na Casa, ainda que sob o comando de Renan Calheiros (PMDB-AL), pois terá uma oposição com nomes de maior peso e o maior partido da base aliada, o PMDB, insatisfeito.
O Senado reinicia seus trabalhos no dia 1º de fevereiro com a eleição de uma nova Mesa Diretora e o amplo favoritismo de Renan, atual presidente da Casa que esteve alinhado com o governo no primeiro mandato.
Apesar do favoritismo de Renan para o comando do Senado, a oposição tentar rachar o PMDB em busca de um nome alternativo. O movimento tem sido liderado pelo candidato derrotado à Presidência da República, senador Aécio Neves (PSDB-MG).
“Nas últimas três campanhas nós apoiamos alguma candidatura contra a candidatura do PMDB… Dessa vez nós teremos um candidato também”, disse à Reuters o líder do DEM no Senado, Agripino Maia (RN), em reportagem distribuída a assinantes de todo o mundo..
“Mas nós queremos um candidato de um partido aliado, confiável e independente… E queremos um candidato que possa ter votos para ganhar”, acrescentou.
Entre os nomes apontados como opções para oposição por Agripino estão os dos senadores peemedebistas Ricardo Ferraço (ES) e Luiz Henrique (SC).
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Ferraço, que apoiou Aécio na disputa presidencial e coordenou a campanha do tucano no Espírito Santo, conversou com o senador mineiro sobre o assunto. Ele, no entanto, tem um cargo importante no Senado, a presidência da Comissão de Relações Exteriores, e poderia ficar sem posição de destaque na nova Legislatura se decidir desafiar Renan e perder.
Já Luiz Henrique, segundo um integrante do alto escalão na hierarquia do PMDB que pediu para não ter o nome revelado, foi procurado pela oposição antes de Ferraço, mas não tratou mais do assunto. Esse peemedebista disse esperar que o nome de Renan seja unanimidade na bancada.
“Meu sentimento é que quando o Renan lançar o nome, no finalzinho do mês, ele será apontado quase por unanimidade pela bancada. Porque o colega não vai querer disputar para ter um, dois votos”, disse.
Segundo uma fonte ligada à oposição, as articulações em torno do nome a ser apoiado pelos oposicionistas na disputa pela presidência do Senado ainda são “embrionárias”. Alguns dos principais senadores da oposição ainda estão em período de descanso em meio ao recesso parlamentar, e essas movimentações devem ganhar força a partir da próxima semana.
Ainda assim, a articulação de Aécio, na avaliação de Ricardo Ribeiro, analista político da MCM Consultores Associados, visa mais a posicionar o senador mineiro e os parlamentares contrários a Dilma do que a efetivamente derrotar Renan na disputa, o que é tarefa difícil, já que ele conta também com o apoio do PT, de acordo com uma fonte do partido.
“O Aécio está dando corda para outro nome para mostrar que está ativo na oposição contra o governo e também pode ser uma medida preparatória para a possibilidade de, se o Renan Calheiros for atingido pela operação Lava Jato, ele (Aécio) poder assumir um papel mais ativo de combate ao Renan Calheiros”, disse o analista.
O nome de Renan apareceu em uma lista divulgada recentemente pelo jornal O Estado de S. Paulo de políticos que teriam sido citados em depoimentos de réus que decidiram colaborar com a Justiça na operação Lava Jato, que investiga um suposto esquema de desvio de recursos da Petrobras para partidos e políticos. O senador negou envolvimento.
Bem mais preocupante para o Palácio do Planalto do que a disputa pela presidência do Senado é a insatisfação que tem sido mostrada por peemedebistas com a formação do ministério de Dilma em seu segundo mandato.
A bancada do PMDB no Senado tem sinalizado que pode não ser mais tão dócil ao Executivo, como foi no primeiro período de Dilma.
“A ação do PMDB no Senado não será igual aos primeiros quatro anos no governo. Depois de tudo que fizemos, que o Renan fez, a recompensa foi o Ministério da Pesca?”, questionou um importante senador peemedebista, referindo-se a uma das seis pastas reservadas ao partido no novo mandato da presidente.
Além da Pesca, o PMDB foi agraciado com as pastas da Agricultura, Minas e Energia, Aviação Civil, Turismo e Portos. Em contrapartida, partidos que têm peso bem menor na base, como PSD e Pros, receberam pastas mais robustas, como Cidades e Educação, respectivamente.
Some-se a isso o reforço que a oposição terá no Senado a partir de fevereiro, com a chegada de nomes de peso como os dos ex-governadores tucanos José Serra (SP), Tasso Jereissati (CE) e Antonio Anastasia (MG), além do deputado do DEM Ronaldo Caiado (GO), um dos mais críticos aos petistas, que se unirão a Aécio, Agripino, Aloysio Nunes (PSDB-SP) e Alvaro Dias (PSDB-PR).
“É uma bancada que vai fazer barulho e que tem condições de explorar eventuais desavenças entre o governo e sua base no Senado”, disse Ribeiro, da MCM.