Os grandes jornais do país se alvoroçam. Quem dirá “Basta” a Dilma Rousseff, como fez o Correio da Manhã há 51 anos, depondo João Goulart?
Procura-se um editorial com a força do ”Basta!”, como este colunista antecipou em postagem anterior.
A Folha de S.Paulo, com sua enorme aceitação na classe média alta e na ascendente, intelectuais e formadores de opinião, emitiu um quase-basta neste domingo, 13, com o editorial “Útima Chance”.
Não foi propriamente um Basta, com B maiúsculo, como o escrito pelo editorialista Otto Maria Carpeaux no Correio da Manhã, no Rio, em 31 de março de 1964.
Não se brinca com um basta. Ou é um Basta completo e definitivo, ou não deve ser um mero basta.
Hoje, um assessor da presidente Dilma deve lhe ter levado o editorial da Folha bem cedo da manhã.
Ela deve ter posto os óculos sobre as letras grossas do Clipping da EBC e começado a ler:
“Às voltas com uma gravíssima crise político-econômica, que ajudou a criar e a que tem respondido de forma errática e descoordenada; vivendo a corrosão vertiginosa de seu apoio popular e parlamentar, a que se soma o desmantelamento ético do PT e dos partidos que lhe prestaram apoio, a administração Dilma Rousseff está por um fio. A presidente abusou do direito de errar. Em menos de dez meses do segundo mandato, perdeu a credibilidade e esgotou as reservas de paciência que a sociedade lhe tinha a conferir. Precisa, agora, demonstrar que ainda tem capacidade política de apresentar rumos para o país no tempo que lhe resta de governo.”
Dilma deve ter interrompido a leitura neste trecho para uma reflexão. Sentiu-se encorajada, porque o jornal dos Frias lhe deu uma chance de reagir, pois “ainda tem capacidade política”.
Foi em frente na leitura.
“É imprescindível conter o aumento da dívida pública e a degradação econômica. Cortes nos gastos terão de ser feitos com radicalidade sem precedentes, sob pena de que se tornem realidade pesadelos ainda piores, como o fantasma da inflação descontrolada. A contenção de despesas deve se concentrar em benefícios perdulários da Previdência, cujas regras estão em descompasso não só com a conjuntura mas também com a evolução demográfica nacional. Deve mirar ainda subsídios a setores específicos da economia e desembolsos para parte dos programas sociais.”
(“Até aqui, ótimo” – há de ter cogitado lá com os botões do robe -, porque é exatamente o que estamos tentando fazer”.)
E a presidente seguiu na leitura:
“Embora drásticas, tais medidas serão insuficientes para tapar o rombo orçamentário cavado pela inépcia presidencial. Uma vez implementadas, porém, darão ao governo crédito para demandar outro sacrifício – a saber, alguma elevação da já obscena carga tributária, um fardo a ser repartido do modo mais justo possível entre as diversas camadas da população. Não há, infelizmente, como fugir de um aumento de impostos, recorrendo-se a novas alíquotas sobre a renda dos mais privilegiados e à ampliação emergencial de taxas sobre combustíveis, por exemplo. Serão imensas, escusado dizer, as resistências da sociedade a iniciativas desse tipo. O país, contudo, não tem escolha. A presidente Dilma Rousseff tampouco: não lhe restará, caso se dobre sob o peso da crise, senão abandonar suas responsabilidades presidenciais e, eventualmente, o cargo que ocupa”.
Fim da leitura. Não houve propriamente um Basta. Houve um ultimato. Dilma recebeu um último aviso: “Não se deixar dobrar sob o peso da crise”.
Não é nada, mas pode ser tudo o que precisa no momento: a sinalização que à banca financeira, somada ao establishment econômico, não interessa agora o impeachment. Foi o recado que o editorial trouxe.