Qualidade de vida, bons serviços públicos e suporte financeiro do governo fazem da Dinamarca um dos lugares ideais para se constituir uma família. A surpresa é descobrir que o país está em campanha para que os dinamarqueses procriem: a preocupação é justamente a falta de filhos. A estratégia adotada por iniciativas públicas e privadas tem sido recompensar casais em troca de mais crianças.
Em 2014, a agência de viagem Spies convocou dinamarqueses a fazerem sexo “em prol do país”, distribuindo prêmios aos casais que comprovassem ter engravidado durante as férias. No mesmo ano, um acordo no município de Thisted, ao norte da península de Jutland, virou notícia quando os governantes prometeram manter serviços públicos funcionando se cidadãos se comprometessem a ter mais filhos. A pequena cidade, de 13 mil habitantes, tem a menor taxa de fertilidade do país: 1,6 filhos por mulher.
As campanhas são o melhor retrato do paradoxo que vive a Dinamarca: um dos melhores lugares do mundo para cidadãos se tornarem pais sofre justamente com a queda na taxa de fertilidade. Em 2015, um índice divulgado pela organização Save the Children classificou a Dinamarca como o quarto melhor país no mundo para mulheres se tornarem mães. Apesar das condições favoráveis, dados do departamento de estatísticas do país mostram que o número de habitantes que chega aos 50 anos sem ter filhos aumentou ao longo dos anos. Em 2014, uma em cada sete mulheres chegou à meia idade sem ter se tornado mãe, enquanto um em cada cinco homens se encontrava na mesma situação.
Atualmente, o número de nascimentos na Dinamarca é de 1,7 filhos por mulher –ligeiramente acima da média europeia, de 1,6. Mesmo na Noruega, considerado melhor país do mundo para ter filhos, a taxa de fertillidade é apenas ligeiramente maior do que na Dinamarca, de 1,9 filhos por mulher. As perspectivas de crescimento da população, no entanto, colocam a Dinamarca em uma situação desfavorável em relação aos vizinhos nórdicos: está entre as menores, superando apenas a Groenlândia.
Em toda a Europa, o envelhecimento e a redução da população economicamente ativa são motivos de debate no presente, especialmente em uma época pós-crise, quando as pessoas dependem em grande parte da ajuda do governo. A Alemanha, que recentemente passou o Japão e ostenta a menor taxa do mundo, de 1,4 filhos por mulher, adota políticas governamentais de estímulo à natalidade desde 2008. Segundo estudo do Instituto ZEW, a taxa de fertilidade seria ainda menor sem os incentivos, que incluem subsídios financeiros aos pais para cada criança nascida.
A preocupação com a baixa fertilidade ganhou força na Dinamarca quando o nível foi considerado “quase epidêmico” por um relatório divulgado em 2013 pelo Ringhospitalet, em Copenhague. A raiz da preocupação é econômica: o menor número de filhos nos dias atuais pode representar problemas no futuro, resultando na diminuição da força de trabalho e em uma parcela maior de aposentados dependendo ainda mais dos serviços públicos. “Nós teremos que incentivar dinamarqueses a trabalhar por mais tempo, pagar mais impostos ou cortar o serviço de bem estar social, ou transferir renda para pessoas fora da força de trabalho”, explica o economista e professor da Universidade de Aarhus, Bo Rasmussen.