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Dinheiro privado aposta em mitos que acham bonito o Brasil ser feio

Disputando com a Itália a posição de oitava economia do mundo, o Brasil, no entanto, ainda engatinha no esporte. Ex-pátria de chuteiras, o país hoje não consegue se classificar para o futebol olímpico masculino. É o fracasso anunciado de uma falsa potência que não desperta mais paixões nem nos torcedores mais otimistas. E por falar em paixão, a equipe olímpica, composta por 274 atletas, corre o sério risco de trazer para o Brasil muito menos ouro do que o recebido por aquele ex-presidente que não gostava de povo, tampouco das práticas esportivas que geram poucos ou nenhum dividendo político.

Eis a razão pela qual ele jamais posou com camisas de clubes fora do G4. Durante sua gestão, obviamente que a preferência era pelos campeões nacionais. Antes de prosseguir, vale registrar que as joias prateadas, os relógios e os colares não entraram no comparativo com os vitoriosos de Paris. Não sei se me entendem, mas como a recíproca do povão é clássica, os verdadeiros patriotas pediram e o Supremo Tribunal determinou que o jubilado mandatário se mantenha a uma distância mínima de 1 km da judoca Bia Souza e da ginasta Rebeca Andrade, nossas duas medalhistas de ouro.

Entra ano, sai ano, muda governo e volta governo, a resenha dos Jogos Olímpicos infelizmente não muda nunca: o brasileiro, inclusive a maioria dos atletas, perde na barra e ainda leva na argola. Enfim, a menos de uma semana do encerramento da Olimpíada de Paris, podemos afirmar que, apesar de nossas 13 medalhas já conquistadas, oito a menos do que no Japão, ainda estamos a anos luz das principais potências desportivas. Apesar das críticas de quem batalha pelo crescimento do desporto nacional, historicamente é o dinheiro público que financia o esporte do país.

O vício estatal aplica anualmente nos atletas de ponta cerca de R$ 750 milhões de recursos da Petrobras, Caixa Econômica, Banco do Brasil e Correios. Não por falta de apelos, os medalhões do empresariado nacional não estão nem aí para o sucesso internacional de nossos atletas. Jogados à própria sorte, o pessoal da ginástica artística, do judô, boxe, canoagem, atletismo, basquetebol, futebol feminino, arremesso de peso e tênis de mesa, entre outras modalidades, tem peso zero na carteira dos tubarões da indústria, do comércio e do agronegócio.

Sob o mentiroso argumento de que, com raras exceções, o esporte olímpico não dá retorno, a cultura do dinheiro privado é apoiar mitos, candidatos a corruptos, levantadores de egos, tiros de fake news a rodo, lançamento de mentiras, assaltos a distância, arremessadores de seres humanos à miséria, pistoleiros de elite e principalmente os estagiários de bailarinos do ballet clássico em que se transformou o futebol brasileiro. Difícil acreditar na pífia argumentação do retorno, na medida em que, vencidos ou vencedores, os ídolos esportivos dominam os espaços da mídia ao longo dos dez dias dos jogos.

Portanto, hipócrita e cinicamente, o empresariado empurra ladeira abaixo o desporto olímpico e o paraolímpico. Para uma nação de 213 milhões de pessoas, é triste explicar a filhos e netos que temos um terço das medalhas de países com um terço de nossa população. É latente que, na tacanha visão dos endinheirados, é melhor que continuemos na periferia desportiva do mundo. O resultado de nosso atraso mental não poderia ser outro: caímos de maduro (nenhuma alusão ao Nicolás) antes mesmo que pudéssemos nos atirar de cabeça na pista, no tatame, nas quadras, no gramado e nas piscinas que não temos. É a paquidérmica elite brasileira que torce para que fiquemos onde estamos e que, sobretudo, acha que é bonito ser feio.

*Wenceslau Araújo é Editor-Chefe de Notibras.

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