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Plantão de polícia

Dino fala grosso, trava bundalelê com as emendas e faz o caminho de volta

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*Wenceslau Araújo - Foto de Arquivo/Gustavo Moreno - STF

Diz um velho ditado que quem tem “C” tem medo. Acho que é essa a razão pela qual os congressistas vêm perdendo noites de sono tentando achar uma forma para não atender à exigência de transparência para as emendas parlamentares. É a tal história do caneco na seringa. A qualquer bobeada, o cassetete entra e não sai nem com reza forte. O receio é tão grande que, para não entregar a rapadura, isto é, R$ 4,2 bilhões, deputados e senadores, comandados por Arthur Lira (PP-AL), inventaram uma refrega com o ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal. Tudo isso para esconder a autoria das emendas. Lira morre com os dentes arreganhados, mas não diz que ele é um dos autores.

Faltam as atas das sessões que deliberaram pela liberação do dinheiro e não há qualquer esclarecimento acerca do pagamento. Portanto, virou caso de plantão da polícia. É o presente do Congresso brasileiro. Para quem já bateu de frente com o então todo poderoso presidente Jair Bolsonaro, Flávio Dino deve estar tremendo de medo das ameaças dos deputados das putadas. Com o pote até aqui de mágoa, os homens que de público só têm promessas não aguentaram o trampo do gordinho mais amado do STF. Eles não se emendam. Todo o fuzuê de reclamações ocorreu somente porque Dino falou grosso e travou o bundalelê que, no silêncio da noite, as excelências aprovaram, mesmo contrariando decisão anterior do próprio STF.

Estivesse Flávio Dino dormindo como os milhões de brasileiros crédulos, a essa hora deputados e senadores estariam, lasciva e putanescamente, nadando de braçada no piscinão sem fundo de R$ 4,2 bilhões das chamadas emendas secretas, aquelas que ninguém sabe e ninguém viu. E se viu, não sabe quem as colocou onde estavam. Sem recuar uma pentelhímetro, o ministro sacudiu a toga e anunciou seu preço aos reizinhos do Congresso Nacional: ou fazem a coisa certa ou morrerão à míngua. Nem tanto, porque ao longo do ano eles já encheram os bolsos.

O problema é a gula. Cansadas de roer o osso da população, as ratazanas também querem a canela e, se bobearem, descabelam até o palhaço da moçada incauta. O ministro deu prazo para que a Câmara mostrasse os responsáveis pela liberação das emendas bilionárias. Responderam dizendo que a culpa é do governo. Nada de novo. Embora o Brasil, a Rússia e o Cazaquistão conheçam o autor, é claro que malfeitos não têm assinatura. O embate entre Flávio Dino e os parlamentares, representados na esfera superior pelo czar Arthur Lira (PP-AL), é de simples solução.

Em sua decisão, Dino afirmou que a Câmara dos Deputados insiste em “interpretações incompatíveis com os princípios constitucionais”. Tudo bem que as emendas são constitucionais. Todavia, elas saem dos cofres da União, isto é, dinheiro público. Sendo assim, precisam, e como, do endereço e do CPF de quem vai receber. Em outras palavras, basta transparência e rastreabilidade dos recursos para que tudo seja resolvido. Não será, pois mostrar o destino do dinheiro é exatamente o que as excelências não querem. Se não mostram é porque devem. Se devem, não levam.

No jargão popularesco, ou dá ou desce. Nada de anormal para um segmento social que está pra lá de acostumado com as privilegiadas e sempre alteradas mamatas. Além do nababesco salário de R$ 47,7 mil e quase R$ 100 mil mensais de verba de gabinete, deputados e senadores só não têm auxílio para a balançadinha no bilau após o xixi de cada dia. O povão sofrido é que banca do combustível à saúde, passando pelo restaurante, pensão, farmácia, educação, moradia, dentista e avião. Segundo as excelências, tudo em nome de um Brasil mais justo e equilibrado.

São os mesmos cidadãos autodenominados especiais que precisam de dias e noites de discussões insossas e improdutivas para engordar a merreca de R$ 1.412 do salário mínimo em míseros pontos percentuais. Por que tantos congressistas em um país que só vai para frente quando alguém do topo do poder dá uma topada? Não precisamos de tantos. Na verdade, para fazerem o que fazem bastam dez pessoas bem-intencionadas. Será que o problema do Brasil são os trabalhadores ou os pobres dos aposentados? Sem medo de cara feia, de peito estufado ou dos operadores da máquina de corrupção, Flávio Dino vem mostrando que não. É o gordinho peitudo impedindo a turma do caviar de cagar na cabeça da plebe do arroz, feijão e ovo.

O ministro agiu certo, é verdade. Mas, sabe-se lá por que cargas d’água, no domingo, 29, ele incorporou Marisa Monte, e cantou, com sua voz de trovão: Bem que se quis/Depois de tudo/Ainda ser feliz/Mas (sempre há) caminhos pra voltar (…). Até então, Namastê, Flávio Dino.

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*Wenceslau Araújo é Editor-Chefe de Notibras
** Colaborou José Seabra, Diretor da Sucursal Nordeste de Notibras

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