Ministro bom de voto
Dino mantém duas cabeças à frente na corrida para o STF
Publicado
emPule de dez para substituir a recém-aposentada Rosa Weber no Supremo Tribunal Federal, o ministro Flávio Dino, titular da pasta da Justiça e da Segurança Pública, precisa estar atento ao que fala e faz, pois ainda não tirou as medidas para a toga. Cautela e canja de galinha são recomendáveis nesse momento de angustiante espera.
Tudo indica que a experiência o levará ao STF. No entanto, como diz o ditado popular, mais vale um seio na mão do que dois no sutiã. Dono de um mix político e jurídico de fazer inveja aos demais postulantes, Dino já foi quase tudo na vida pública. Falta justamente o STF ou a Presidência da República. Façam suas apostas.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva quer no STF um ministro para chamar de seu. Como parece decidido que um homem ocupará a vaga deixada por Rosa Weber, o atual titular da Justiça corre com duas cabeças à frente de Jorge Messias e de Bruno Dantas, respectivamente advogado-geral da União (AGU) e presidente do Tribunal de Contas da União (TCU).
Obviamente que a dianteira de Dino não significa correr para o abraço desde já. Desconheço o santo da predileção do ex-governador do Maranhão, um dos poucos a bater de frente e de costas com o ex-presidente Jair Messias. No entanto, sei que ele é carola e tem se apegado a todos os padroeiros dos fortes e corajosos.
Prova disso é que, após algumas semanas quarando no sereno, seu nome voltou à ribalta com toda força. Tanto isso é verdade que o PT vem “trabalhando” para evitar que o futuro ministro da Justiça seja alguém de fora do tranquilo, pacífico e solidário lar petista. A ideia é substituir Flávio Dino por um parceiro de primeira e última hora, isto é, um aliado caninamente fiel a Luiz Inácio.
Antes da cirurgia no quadril, o presidente havia enfatizado que não tinha pressa para anunciar o novo ministro da Corte Suprema e que a indicação não se basearia em critérios de raça e gênero. Será? Não sei.
Tudo pode acontecer, inclusive nada. Ou seja, não é impossível surgir da cartola do líder petista um quarto nome surpresa. Isto não é comum, mas, diante das pressões internas e externas, quem sabe o STF se mantenha com duas mulheres em seu esquadrão judicial. Como boa mineira, a ministra Cármen Lúcia certamente espera essa parceria feminina. O problema é que o recolhimento temporário de Luiz Inácio jogou no colo do vice-presidente, Geraldo Alckmin, a responsabilidade pela indicação.
Na segunda-feira (2), durante o lançamento do Programa de Enfrentamento às Organizações Criminosas (Enfoc), o ainda ministro prometeu “nunca mais falar sobre o assunto”.
Nem precisa, na medida em que a mídia especializada e a maioria dos políticos já se convenceram de que o lugar foi liberado para ele. É claro que o tempo, a escolha e o critério são de Lula. Todavia, a indicação de Flávio Dino de Castro e Costa para um dos 11 assentos do Supremo representará a tranquilidade presente e futura do presidente.
De uma só canetada, Lula abre uma vaga no ministério, garante a ascensão de uma das duas suplentes do ministro senador (Ana Paula Lobato e Lourdinha) e ainda se tranquiliza com relação à sua sucessão.
Governador de dois mandatos seguidos, Flávio Dino é sabidamente bom de voto. Por isso, seu partido, o PSB, certamente o convocaria para, no caso de qualquer impedimento de Luiz Inácio, disputar com chances reais a Presidência da República em 2026. Sem ele, sem Lula e sem Jair Bolsonaro, o caminho fica tranquilamente pavimentado para Fernando Haddad. Coisas da política brasileira, na qual também vale mais um galo no bico do que dois no galinheiro.
*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978