Uma verdadeira catarse (liberação de emoções ou tensões reprimidas) marcou a diplomação de Luiz Inácio e de Geraldo Alckmin como presidente e vice-presidente eleitos do Brasil. Mais do que a entrega de diplomas aos vencedores, a solenidade dessa terça-feira (12), no Tribunal Superior Eleitoral, representou a consagração da democracia e o reconhecimento definitivo do sistema eletrônico de votação. Para o clã Bolsonaro e para os “patriotas” sonhadores, mais uma série de noites de medonhos pesadelos. A 19 dias do encerramento do mandato de um mito que jamais trabalhou pelo país, essa etapa da eleição de outubro, além de aumentar o isolamento do cidadão Jair Messias, representa o limite da imunidade do quase ex-presidente Bolsonaro. Embora a democracia seja um bem a ser cuidado, a besteirada divisionista e contra o futuro da nação são páginas viradas.
Talvez não para os que não têm o que fazer e para os ministros Kássio Nunes Marques e André Mendonça, indicados ao STF pelo tenente presidente. Este deve ter sido o motivo pelo qual ambos faltaram à cerimônia no TSE. Nada que o primeiro café coletivo da Corte pós-Bolsonaro não resolva. Quanto aos patriotas de araque, considerando que o direito de um termina onde começa o de outro, que as forças de segurança cumpram o que determina a Constituição. Os prédios e espaços públicos, incluindo os quartéis, não são propriedades particulares de baderneiros. O fato é que o sonho de uma noite de verão terminou para os “patriotas” encardidos pelo sol das grandes cidades brasileiras. Diplomado presidente da República, o 39º de nossa história republicana, Luiz Inácio Lula da Silva recolocou os dois pés na rampa do Palácio do Planalto. Iniciar a terceira subida é apenas uma questão de dias, precisamente 20 dias. É cedo para afirmar que teremos uma quarta vez.
Provavelmente, não. No entanto, os secadores de plantão devem recolher a histeria, devolver a camisa amarela ao baú e começar a dar gritinhos de raiva pelo ótimo governo que se avizinha. E não há hipótese de ser diferente. Lula tem a obrigação de trabalhar dia e noite para apagar da memória do brasileiro tudo de ruim que ele eventualmente produziu ou produziram em seu nome. Depois, nada pode ser tão ruim como foi o (des) governo de Jair Messias Bolsonaro. Queiram ou não os fanáticos raiz, a primeira impressão é a que fica. E esta é a melhor possível, a começar pela confirmação dos cinco primeiros ministros. Teremos uma Esplanada dos Ministérios mais arejada, mais credenciada, mais uniforme e, sobretudo, suprapartidária. Flávio Dino (Justiça e Segurança), Fernando Haddad (Fazenda), José Múcio Monteiro (Defesa), Rui Costa (Casa Civil) e Mauro Vieira (Relações Exteriores) são exemplos da coalizão em gestação.
São todos nomes de peso e cuja competência será reconhecida rapidamente. A estes deverão se juntar outras figuras de proa, entre elas provavelmente a senadora Simone Tebet, o ex-governador paulista Márcio França. Para silenciar de vez a rouquidão da caserna, também estão definidos os chefes das três forças: Exército (general Júlio César de Arruda), Marinha (almirante de esquadra Marcos Sampaio Olsen) e Aeronáutica (tenente-brigadeiro do ar Marcelo Kanitz Damasceno). O almirante de esquadra Renato Rodrigues de Aguiar Freire assumirá o posto de comandante do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas. Por enquanto eles são apenas indicados. Apesar disso, já começaram a trabalhar pelo país. A primeira vitória do grupo, Lula e Geraldo Alckmin à frente, foi a aprovação da PEC do Bolsa Família no Senado.
Agora, é negociá-la na Câmara, onde os novos “irmãozinhos” do petismo (leia-se Centrão) certamente fecharão com o governo de transição uma boa transação. A palavra de ordem do presidente eleito é transformar o Brasil na pátria de todos, sem “fanfarronice” e “pirotecnia”. Para isso, a ideia primitiva é recuperar o astral do povo, isto é, independentemente do motivo da guerra, a paz deve ser buscada a qualquer preço. Popularizando a estrogonófica afirmação, chega de bater palma e tocar bumbo para maluco dançar, fazer firula e pregar o golpismo em nome do marasmo, da mesmice e dos absurdos cometidos de 2018 até agora. Ainda não sei qual será o slogan da administração Lula da Silva. Tomara que não metam Deus no meio. Pai de todos e acima de tudo, o Mestre Supremo tem muito mais o que fazer.
“Ora-pro-nobis”! Parem com os siricuticos em favor do “governo de corpo grande e cabeça pequena” e esqueçam de uma vez a insubordinação e a má fé. O resultado das urnas não será modificado nem que o papa Francisco reúna na mesma missa campal Donald Trump, Joe Biden, Vladimir Putin, Volodymyr Zelensky, Jair Bolsonaro, Damares Silva, Sérgio Moro, Lula da Silva, Nicolás Maduro e Alexandre de Moraes. O jus sperniandi já encheu o saco. Para que não esqueçam jamais, dois terços do povo brasileiro lutaram por quatro anos para recuperar a paz e a esperança. E elas estão bem próximas do dia em que poderemos voltar a pensar em um país verdadeiramente de todos e para todos, sem fake news, pen drives, cercadinhos, lives amadoras, arrogância, descortesia e, claro, golpismo com o “O” dos outros.
Embora não estejamos mais na Copa do Mundo, o dia da diplomação confirma o futuro de goleadas de alegria. Levaremos algum tempo para recuperarmos a Pátria de Chuteiras. Nada demais para quem já está há 20 anos sem um título mundial. Independentemente de que sejamos torcedor ou secador, tenhamos fé a partir de janeiro, quando tanto o país quanto a seleção estarão em mãos de profissionais competentes e certamente mais preocupados com o povo. Torço por um Brasil melhor. Sobre o hexa, quem sabe no próximo século. Se Jesus aportar por aqui, talvez seja antes. Quero estar por aqui pelo menos até o eneacampeonato ou até o derradeiro suspiro da extrema-direita. Depois disso, ascenderei, feliz e sem mágoas, ao panteão dos que já estão libertos do grande mistério da vida.