O chanceler Ernesto Araújo está com os dias contados no cargo. É o que se ouve a boca pequena no Itamaraty. E a eventual demissão não teria nada a ver com os gestos atabalhoados do ministro na política externa, a ponto de deixarem os generais que cercam Jair Bolsonaro, e o próprio presidente, de cabelo em pé.
O caso é mais grave. Ernesto Araújo está sendo acusado de prevaricação, improbidade administrativa e má fé quando presidiu, no ano passado, uma comissão que levou à demissão do diplomata de carreira Renato de Ávila Viana. Como responsável pela comissão que aprovou a demissão do servidor, Ernesto foi desonesto.
Além de perder o emprego, vítima de falhas de um processo administrativo, Renato cumpre pena de prisão na Papuda, por suposta agressão física a uma ex-namorada. Mas ele não tem culpa no cartório quando é acusado de colocar em cárcere privado outra namorada, principal motivo alegado para ser demitido.
A acusação de cárcere privado foi feita a uma comissão de investigação do Itamaraty por Jobevina Livramento de Melo, mãe de Rafaella de Melo Maciel. Jobevina é ex-candidata a sogra de Renato. Ela prestou depoimento à comissão presidida por Ernesto Araújo, hoje sentado na principal cadeira do Ministério das Relações Exteriores. Teve bate-boca com a defesa de Renato, presente à oitiva.
Ocorre que Jobevina, segundo a própria filha Rafaela, mentiu. Ela diz que sempre esteve na casa de Renato por livre e espontânea vontade. E que sempre foi bem recebida, bem tratada. Policiais que se deslocaram à residência de Renato, na Asa Norte, em Brasília, na tentativa de registrar flagrante por cárcere privado, saíram de lá desconcertados. Não havia nada de anormal. E Rafaela foi conduzida à Delegacia da Mulher, onde prestou depoimento inocentando Renato de todas as acusações.
Renato começou a ser perseguido por alguns colegas do Itamaraty – entre os quais o hoje chanceler Ernesto Araújo -, há pouco mais de dois anos, quando denunciou lavagem de dinheiro nas Ilhas Cayman por iniciativa da embaixada brasileira em Caracas.
A partir daí, a vida do diplomata virou de cabeça para baixo. A própria suposta agressão a uma ex-namorada, que provocou a prisão do diplomata, é hilária. A namorada, supostamente por ciúmes, subiu no capô da BMW e Renato e começou a pular, danificando o veículo. Entre o amor pela namorada e a paixão pelo carro, Renato puxou a moça, que caiu e machucou o lábio inferior. Inconformada, disse ter sido agredida. E deu no que deu.
Agora, prestes a deixar a Penitenciária da Papuda, Renato de Ávila Viana prepara o troco. E mira justamente Ernesto Araújo. Para começar, a defesa do diplomata entrou com representação criminal na Justiça Federal, em Brasília, contra o agora chanceler. A principal acusação é de prevaricação. Se condenado, Ernesto pode pegar pena de 3 meses a um ano, além da perda de cargo ou função.
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