Conscientemente sou um dos mais fanáticos críticos do conservadorismo barato da direita milionária, elitista e burocrática. Não morro de amores pela esquerda, mas, pelo menos, os chamados esquerdopatas têm muito mais simpatia, carinho e apreço pelo Brasil e por seu povo. Os da direita já tentaram me provar o contrário. Todavia, o máximo que me provaram consolidou minhas expectativas a respeito da realidade brasilianistas deles. Eles realmente amam o Brasil, mas não o de 213 milhões de habitantes e sim aquele em que 1% – talvez um pouquinho mais – detém 99% da riqueza nacional.
Eles não engolem o país das massas. Aliás, são obrigados a isso em períodos eleitorais, quando, pela força do hábito, conseguem convencer a maioria de que eles são bonzinhos e que, com ajuda da rudeza, imprudência e estupidez popular, alijarão da política os comedores de criancinhas. Autossuficientes, seus representantes são os maiores, os mais bonitos, os mais cultos e, consequentemente, os mais preparados para assumir todo e qualquer cargo de direção no país, inclusive o de síndico da massa ignara e, por isso mesmo, esquecida.
Ainda que neguem, o homem a ser castrado não é somente Luiz Inácio, conhecido nas rodas da direita por Lula ladrão. São todos os que se aventuram em propostas, ideias ou discursos diferentes. O que quero dizer é que, fora deles, não há homem público que preste. Eles roubam tanto quanto – normalmente muito mais -, mas não admitem o adjetivo de desonesto. Quando muito, são relapsos, esquecidos e enganados pelas assessorias. Interessante é que o suposto ato falho nunca é corrigido, isto é, o que tiraram “por engano” permanece enganosamente em poder dos enganadores.
Odeiam quando dizem, mas, às vezes, são corruptos e corruptores. Insisto que nada tenho contra os políticos que se autodenominam líderes, mitos, reis, doutores, professores, delegados e capitães. Entretanto, não há como deixar de retratar o óbvio. Eles são incapazes de aceitar a vitória alheia. Quando isso ocorre, a urna foi violada, o sistema é viciado ou os ministros do Tribunal Superior Eleitoral se associaram à esquerda contra o Brasil. Para ilustrar, a direita ganhou de lavada a eleição municipal. Não me lembro de ter ouvido um único “patriota” se insurgir contra as maquininhas de votar.
Curiosamente também não pediram intervenção militar na fiscalização das sessões eleitorais. O mais interessante é que ninguém ousou falar em golpe ou em vandalização dos Três Poderes. Ficou claro que, na melhor e na pior das hipóteses, é tudo deles e para eles. É aquela velha história de que pimenta nos olhos dos espertos é refresco. Só arde quando um brasileiro com ideais libertários sugere que é possível juntar os diferentes para transformar o Brasil em um país melhor. Além de inimizade mortal, o autor de tal ignomínia passa para os anais da direita como o sujeito da piada de mau gosto.
Definitivamente, o pluralismo democrático não faz parte da cartilha de nenhum dos cidadãos que adora avaliar a Constituição brasileira como uma colcha de retalhos sem brilho e capaz de cobrir a cabeça e os pés somente dos que têm horror às leis. Não à toa o farsante Pablo Marçal recebeu votos de quase dois milhões de paulistanos. Não venceu porque do outro lado, mesmo sem o apoio direto do maior simpatizante do atraso, estava um outro menino de recados do reacionarismo injusto e fora da curva. Eles cresceram. É fato. Nada assustador, considerando que Hitler até hoje tem seguidores, mas em quantitativo inferior ao que é exigido para eleger o síndico da confraria chamada Brasil.
*Armando Cardoso é presidente do Conselho Editorial de Notibras