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Direita e esquerda mudam de cor no Brasil e quadro continua cinza

Foto/Arquivo Notibras

O mundo político dá voltas, manquitola, se degrada, mas acaba sempre onde tudo começa: na eleição. De dois em dois anos, às vezes de quatro em quatro anos, é na corrida pelo voto que suas excelências sujam os pés, as mãos, gastam, choram, se descabelam, cumprimentam sacudidos, celerados e aproveitadores da mulher alheia, viram homens de bem e, se for preciso, até rompem com o corrompimento. Tudo em nome do eleitor. Na cabeça de cada um dos candidatos, Deus ajuda quem cedo madruga. E eles estão absolutamente certos, principalmente considerando que, em terra de cego, quem tem um olho é rei. A direita se favoreceu disso nas eleições municipais.

E, salvo raríssimas exceções, o que mais temos no Brasil de hoje são aqueles que não querem ver. São os tais que acham que o coração não sente o que os olhos não veem. Tudo bem que pensem assim, mas que também pensem sempre em quem os representará em suas cidades, estados, regiões e no país. Voltando alguns meses no tempo, mais especificamente à sessão em que a Câmara dos Deputados manteve a prisão do deputado Chiquinho Brazão (sem partido-RJ), anotei que 21 parlamentares que votaram para tirar da cadeia o suspeito de mandar assassinar a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes foram candidatos a chefiar prefeituras no Brasil.

Entre os que votaram para liberar Brazão, os deputados Alexandre Ramagem (PL-RJ) e Otoni de Paula (MDB-RJ) disputaram e perderam a briga pela sucessão de Eduardo Paes na Prefeitura do Rio de Janeiro. Nada de anormal em uma democracia, sistema do qual os citados e os amigos do Brazão não são simpatizantes. Denomino esses tais como aproveitadores da boa fé do povo brasileiro. Como ponho a mão bem longe do fogo por todos eles, lembro ao povo das cinco regiões do Brasil a necessidade de, nas eleições gerais de 2026, não esquecer que papagaio que acompanha João-de-Barro vira ajudante de pedreiro.

Pesquisando as regionais da Justiça Eleitoral, é fácil descobrir que, mais engraçado do que as propostas dos postulantes aos cargos de prefeito e vereador, foram os nomes informados para registro na urna eletrônica. Do Oiapoque ao Chuí, de Xerém a Mogi, cada um se virou como podia. Na cidade de Amorimnópolis (GO), por exemplo, Pedro Galinha, vulgo Cocó, prometeu disputar o voto de grão em grão. Mesmo de papo cheio, perdeu feio. Em Cuiabá, Totó Parente pregava ser o melhor amigo do homem. Ninguém pagou para ver. Em Xerém, terra do sambista Zeca Pagodinho, Paulo Burro jurou que trabalharia feito um jumento pelo povo. Permaneceu no pasto.

Virgem de nascimento e disposta a não engolir sapo, Sônia Perereca foi candidata em Mogi das Cruzes. Não saiu da coxia. Município aprazível das Minas Gerais, Formiga mostrou ao Brasil um candidato que merecia ser respeitado. Falo do travesti mais famoso da cidade, que cravou na urna o codinome Galo Véio. O bordão da campanha é para ninguém esquecer: O único que não tem o rabo preso. A fauna não se esgotou por aí. Vi nomes – ou apelidos – do tipo Márcio Panda, Ana Pitibul, Girafa e Baleia, entre muitos outros prováveis ex-futuros prefeitos ou vereadores. Se fossem eleitos, teríamos um zoológico espalhado pelos 5.570 municípios do país, o que, quem sabe, poderia ter garantido dias melhores aos brasileiros.

Também tivemos candidatos gaiatos ou, no mínimo, desprovidos de talento vernacular. Por exemplo, um dos postulantes à Prefeitura de Floriano (PI) foi Luiz C.B, o popularíssimo Sangue bom. Nada tão bizarro como a soteropolitana Doroty, que primou pela sinceridade. Por onde passava, puxava o suposto eleitor pelo braço e, num rápido embargo auricular, dizia: “Me ajeita que eu te ajeito”. E assim a banda tocou alto em favor da direita que ainda não se autoproclamou patriota. Que o “endireitamento” da política obrigue seus representantes a refletirem a respeito de alguns achados de Eça de Queiroz. Em um deles, o escritor português foi bem claro ao afirmar que, na política, à esquerda ou à direita, errado de hoje pode ser o certo de amanhã: “Em política hoje é branco, amanhã é negro, e depois, zás, tudo é nada”. Pensem nisso os que usam a política somente como oportunidade. À esquerda cirandeira, diria que vem da incapacidade de refletir sobre os erros cometidos a capacidade de cometê-los novamente.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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