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Disputa inglória

Direita, esquerda? É melhor sonhar e ter esperança

Publicado

Autor/Imagem:
Adailton Braga

O filósofo político procura frequentemente fazer uma reflexão sobre o processo político. E muitas vezes trabalha com a indeterminação da experiência política posta. O foco é nos debates corriqueiros.

Os que são de direita já sabem que a democracia como a praticamos, é um regime político de liberdades civis onde todo mundo pode, em tese, dizer o que quiser, enquanto uma elite eleita, concursada ou indicada, decide o que é melhor para todos. Daí, os que são de direita disseminam a ideia de que o socialismo é uma loucura popular desencadeada por um bando de intelectuais e políticos alienados, que se aproveitam da democracia para destruí-la, desembocando necessariamente em campos de concentração e exploração parasitária.

E os que são de esquerda se defendem, disseminando a ideia que infelizmente o totalitarismo é um desvio do socialismo porque este sempre teve o infortúnio de implantar-se em países economicamente atrasados, politicamente despóticos e culturalmente bárbaros, enfrentando a hostilidade belicosa do capitalismo internacional que só visa o patrimonialismo, não se preocupando com a vida humana, apenas com a posse de riquezas, que exploram com avidez e ganância ímpar.

Daí, sempre enfatizo que é melhor a caminhada Democrática pois: A invenção democrática é um acontecimento extraordinário, uma revolução que corre pelos séculos, dona de si, permeando e superando essas dimensões de direita/esquerda. A democracia é uma invenção porque, longe de ser a mera conservação de direitos, é a criação ininterrupta de novos direitos, a subversão contínua do estabelecido, a reinstituição permanente do social e do político, a luta constante da esperança contra as desigualdades.

A prática democrática tem a capacidade extraordinária de questionar se a si mesma como poder e contrapoder que não carece de garantias externas e nem da integração funcional de órgãos de um corpo, como se exige nas postulações direita/esquerda. A Democracia se faz no debate fecundo e interminável que nela se institui, sempre no direito de qualquer questionamento justo e reto.

A Democracia abre o pensar, em vez de fechá-lo sobre si mesmo, inventa esse lugar “alto”, externo, de onde tudo é melhor visto e compreendido.

Esse maquiavelismo rastejante instituído pela direita/esquerda, estritamente regrado pela obrigação de cada um só dizer o que sirva, só o que tenha em mira interesses estabelecidos, de viés autoritário, não serve mais. É preciso entender que é na leitura que o livro se faz. Entender, compreender, que é sempre na mesma panela que borbulham amorosamente os problemas e suas soluções, assim é a Democracia.

É preciso não negar à nossa frágil Democracia a dinâmica, o vigor, a inventividade, a força de subversão da ordem estabelecida. As vozes que se fazem ouvir em todos os cantos e recantos da sociedade precisam ser ouvidas, incluídas, pois são carregadas de esperança.

É preciso fugir da mistificação do Estado totalitário, seja de direita ou esquerda, que se pretendem míticos, em qualquer das suas formas. Aceitar as diferenças é somar em prol do desenvolvimento da relação social de melhor qualidade e caminhar em direção a prosperidade. É preciso superar essa mentalidade de aparências, de ostentação, de celebridades públicas, em prol de um interesse mais verdadeiro. É preciso abrir à sociedade, em todos os níveis, as portas das luzes, das riquezas no sentido amplo. Ir além desses choques rotineiros e emocionais de interesses políticos de ostentação rasa de poder, que tem atravessado a sociedade em todos os níveis e segmentos no tempo.

Não podemos permanecer insensíveis, nesse enigma de esfinge, de uma sociedade que não possui sua própria definição, e que sempre permanece às voltas com sua própria possibilidade de fracasso, um círculo imutável e vicioso.

Vejo no ar o equívoco do desejo de construção de uma grande rede de coerção social, sujeitando a sociedade a slogans, jargões míticos mal compreendidos, visando expulsar das condutas qualquer sinal de autonomia, visando sujeitar indivíduos e grupos a um padrão dito correto, isso mata a democracia, esse não é um bom caminho.

Não podemos inverter o curso da construção democrática sob nenhum tipo de argumento material ou imaterial. Se o Estado pretende seguir em direção a um Estado democrático e liberal, claro que tem que conhecer esse caminho, não pode ser no improviso, na retórica vaga, tem que ter um projeto de longo prazo compreensível e correto. Afinal, improvisos de direita ou esquerda, são diametralmente semelhantes.

Essa história de que cada povo tem o governo que merece, é uma meia verdade. Vejo que a sociedade brasileira tem tentado todos os caminhos, mas esses caminhos não tem se mostrado viáveis, sustentáveis além da retórica, e os políticos tem traído às promessas feitas aos eleitores e ao conjunto da sociedade.

Observo que as razões do poder constituído não têm conseguido ir além do oportunismo, o que não é nada perante a urgência das missões lhes atribuídas pela sociedade.

É preciso livrar-se dessa imagem saudosa de leviatãs de direita ou esquerda, que instituídos, bloqueariam o horizonte Democrático, talvez, para sempre. Melhor ousar reencontrar-se a cada dia com os riscos de reinterpretar os conflitos e os diálogos políticos e agir em prol das esperanças de todos e para todos.
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