Não há dúvidas de que a direita saiu vitoriosa das urnas. Mas que direita? Em primeiro lugar, é uma direita que já vive um relativo descolamento da figura de Bolsonaro, como mostra o desempenho eleitoral dos candidatos apoiados pelo capitão. É, portanto, mais ampla e diversificada, não só porque novas figuras públicas surgiram, mas também porque o centrão em geral migrou para a direita.
Daí porque seja mais adequado falarmos em ?direitas? no plural, como sugere Valter Pomar. O que faz com que seja também uma direita mais enraizada, que ganhou corações e mentes, alerta Alysson Mascaro. E esse é o problema, ela veio para ficar.
É ainda uma direita mais fisiológica, que tenta combinar o conservadorismo nos costumes, o liberalismo na economia e o pragmatismo na política. O que explica o fracasso de algumas figuras do submundo golpista, que têm radicalismo demais, mas pragmatismo de menos. Em compensação, o partido que mais cresceu, o PSD de Gilberto Kassab, o ‘onipresente’, é o mais puro exemplar dessa nova tendência e vai usar este trunfo para tentar uma reviravolta na disputa pela presidência da Câmara.
O MDB e o PP são a cara do centrão nos municípios: continuam grandes e conseguem compensar a falta de nitidez ideológica com excesso de fisiologismo. Exatamente o contrário do PL, de Valdemar Costa Neto, que vestiu o figurino de Bolsonaro sem perder o velho estilo coronelista. E o PSDB afunda porque seu antigo lugar de representante da direita já foi ocupado.
Trocando em miúdos, a única notícia boa para a esquerda é que o cenário da direita para 2026 ficou ainda mais incerto. Afinal, Bolsonaro está inelegível e não construiu um sucessor. Tarcísio de Freitas tem seu próprio projeto de poder e é cada vez menos dependente do ex-capitão. E nessa equação há ainda o imponderável fator Pablo Marçal, cujo destino político ninguém sabe qual será, mas que mostra que o cenário ainda está aberto aos aventureiros.