Enquanto deputados e senadores atiram o pau no gato e se irritam quando o STF exige a destinação das emendas PIX, eu fui no Tororó beber água e não achei. Como não devo e não temo, achei bela morena que no Tororó deixei. Já eles, que se escondem em um mandato concedido pelo povo, não é de admirar o berro. Na ciranda cirandinha contra o respeito ao dinheiro público, suas excelências das urnas se enclausuram na Capelinha de Melão e do corporativismo, jogam caxangá, botam e tiram os olhos dos Escravos de Jó e, como ratazanas que não jogam água fora da bacia, se lambuzam com a galinha do vizinho, aquela que bota ovo amarelinho. A deles está sempre na cozinha, mas fazendo chocolate para a madrinha.
Para quem trabalha de terça à quinta-feira, é natural que, uma vez tindolelê, outra vez tindolalá. E que se danem os que têm perna de pau, olho de vidro e nariz de pica-pau. Como estou entre esses, o máximo que posso fazer é lembrar sempre que, como a baratinha das cantigas de roda, os chamados homens públicos não têm sete saias de filó, tampouco anéis de formatura. Ao contrário do que afirmam, eles estão mais para tiririca do brejo do que para flor do campo. Iguais ao pirulito que bate e bate, os legisladores de causas próprias fogem do que é sério, correto e benéfico para a sociedade.
De ternos engomados com maizena e camisas compradas na liquidação de Dona Baratinha, os inquilinos dos parlamentos mais parecem o sapo que não lava o pé. Eles moram na lagoa, não lavam o pé, mas quando brigam com o cravo de toga acabam escorregando na rua do sabão e, sem a calma e a resiliência de Terezinha de Jesus, de uma queda vão ao chão. Às vezes, caem como um dos dez indiozinhos derrubados pelo jacaré descabelado, com a língua afiada e sem medo do Curupira. Em outras palavras, são salvos pelos cavaleiros da corporação que, em nome do anjo golpista, roubam até coração.
Se eu pudesse e se meu dinheiro desse, destronava definitivamente o samba lelê, mantinha o samba lalá, tirava o bosque da rua e mandava ladrilhar Bangu com pedrinhas das arábias só para ver o mito e seus seguidores descansando. Mas eu não posso. É por isso que, mesmo sem saber dançar, entrei na roda, eu entrei na rodadança para admirar o macaco macaquear. Nossos falsos representantes gastam o que não é deles e, quando percebem que o soldado gordinho não é de papel, decidem reclamar ao menestrel do fuzuê alagoano, sempre ele, que trocou o mergulho matinal pelo mel puro das emendas PIX.
Tenham calma, moços da Brasília amarela, o quartel pegou fogo e a polícia deu sinal. A canoa virou. Agora, os marinheiros que não sabem nadar estão iguais ao sapo cururu na beira do rio ou parecido com o caranguejo que não é peixe, mas acha que peixe é. Palma, palma, palma, caranguejo só é peixe na loja do Mestre André. Tudo bem que hoje somos um pião que entra na roda, bambeia, sapateia no terreiro, entrega o chapéu ao outro e continua pião. Mas chegará o dia em que o boi vai morrer. E de nada adiantará mandar buscar outro lá no Piauí. Rema, rema, remador, pois o jipe do padre fez um furo no pneu. Um, dois, feijão com arroz, o trem maluco em breve começa o vuco vuco.
É aí que, apoiados pelo seu Cuca, os guerreiros com guerreiros farão o ziguezigue zá. Azar que o samba lelê está doente. Quando esse dia chegar, o povo não poupará a voz e nem se preocupará mais com aqueles que, enrolados na bandeira nacional, sonham em afanar os votos vermelhos que saem da urna amarela para garantir a vitória do zabelê. Lembrando que seu Cuca é eu e que o boi Barroso não é cavalo pangaré, os escravos de Jó pedirão aos semelhantes do Tutu Marambá para navegarem por outros mares. Caso insistam, o gato que não morreu porque dona Chica admirou-se dormirá de madrugada esperando o bicho Xandão descer do telhado. Então, o anel que ele ganhou vai virar vidro e se quebrar. Daí, será a vez do povo pedir à troça carnavalescamente patriota para que o líder, em companhia de seus liderados, enxugue o pranto, diga um verso bem bonito, diga adeus e vá se embora.
*Wenceslau Araújo é Editor-Chefe de Notibras