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Disco clássico do Dead Fish faz 20 anos e mantém o legado do hardcore

Foto/Divulgação

Era 23 de dezembro de 2017. Quando as luzes do Hangar 110, tradicional casa de shows de hardcore, localizada na zona norte da capital paulista, se apagaram pela última vez, coube ao CPM 22 dar números finais a uma era que, dez anos antes, parecia fadada a um final, digamos, mais digno. Palco de tantas apresentações nacionais e internacionais de peso, o fechamento do local acertou em cheio os corações das bandas e dos amantes do gênero que explodiu nos anos 1990 e 2000. Se a onda do hardcore já vinha mal das pernas desde 2010, o fechamento do Hangar e de outras casas de shows menores só pioraram o cenário. Muitos conjuntos se desfizeram e tantos outros não conseguiram mais se manter em evidência.

Um dos grupos responsáveis pela época de ouro do hardcore nacional foi o Dead Fish. Formada em 1991 em Vitória, no Espírito Santo, a banda triunfou ao lançar Sonho Médio (1999). O segundo disco de estúdio do conjunto abriu as portas para os chamados “garotos HC’s”. O álbum mudou para sempre o rumo do hardcore brasileiro e colocou sob os holofotes um bando de jovens contrários ao sistema capitalista, que só queriam expressar seu descontentamento com o mundo por intermédio de letras contundentes e riffs intensos.

“É um de nossos álbuns mais clássicos, se não for o mais. Eu estava com 20 e poucos anos na época, já tinha uma banda por quase uma década e as coisas estavam dando certo para a gente. Estávamos escapando das garras da tosquice da sociedade capixaba média e da brazuca também. Se tinham planos idiotas pra gente, estávamos dizendo um não gigantesco pra eles”, conta Rodrigo Lima, vocalista do Dead Fish.

As 14 faixas de Sonho Médio poderão ser ouvidas na íntegra na noite deste sábado, 28, em um show no Sesc Santo Amaro para celebrar as quase duas décadas do trabalho. Todos os ingressos já estão esgotados. O repertório do CD, que inclui sucessos como Mulheres Negras, Paz Verde e Sobre a Violência, reflete a importância do hardcore brasileiro para a geração atual, que, apesar do sufoco, continua lutando para manter o legado do gênero em evidência, tentando renovar seu público.

Além do Dead Fish, muitas foram as bandas que explodiram na mesma época. Garage Fuzz, Gritando HC, Mukeka di Rato, Dance of Days, Sugar Kane e Street Bulldogs, por exemplo, consolidaram uma cena que há muito tempo não se via no rock do País. Os tênis sem meias e as famosas bermudas surradas eram sinônimos de uma molecada que não se espelhava no britpop liderado por Oasis e Blur.

Questionamentos suburbanos com teor político dominavam a maior parte das letras desses grupos. “Essa conscientização veio de dentro de casa. Sempre tive livros e participava de discussões políticas na mesa do almoço mesmo. Era algo bem comum. Meu pai sempre contava histórias sobre o golpe de 64. Era como falar sobre futebol”, afirma Rodrigo. “No meu ponto de vista, o que torna Sonho Médio tão emblemático é o fato de cantarmos em português num tempo em que as bandas dos anos 1990 não queriam fazer isso, porque podia parecer cafona demais”, complementa.

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