O discurso do novo é sempre bastante tentador de ser vendido. Mas, muitas vezes, ele pode ser extremamente perigoso por vir permeado de mensagens falaciosas que pretendem levar os que as consomem a um julgamento errado da situação em que se encontram. É um mal existente, principalmente, no campo da política.
Quem nunca achou que aquele ano que começa seria completamente diferente daquele que termina? É humano desejar isso. Mas aí a gente percebe que para termos o novo durante os próximos 365 dias vamos ter que trabalhar para construí-lo. Que o novo, para nascer, depende do nosso esforço e do nosso trabalho, que não surge do nada, que não se compra num banco de feira, que ninguém – senão nós mesmos – pode nos dar.
No contexto da disputa presidencial que se aproxima, é muito curioso observar o quanto o comportamento de alguns candidatos está contaminado por esse desejo de turvar a compreensão do eleitor.
Assistimos, por exemplo, ao grupo PSB-Rede apresentar ao país propostas e frases de efeito, produtos muito mais da publicidade do que do exercício da política. Obras de marketing, que querem vender um “novo Brasil” como se vivêssemos numa propaganda de TV.
Observem isso: “Chega da política do passado. O maior risco que temos é tentar a velha política de sempre, com os mesmos velhos jogadores, e esperar um resultado diferente. (O povo) se levanta e insiste em novas ideias e nova liderança, uma nova política para um novo tempo”.
Eduardo Campos? Não, essas não são palavras do pré-candidato do PSB. Elas foram ditas por Barack Obama em 2008, quando ele disputou pela primeira vez a presidência dos Estados Unidos.
Perceberam? Pegam um discurso de seis anos atrás, utilizado em outro país e num contexto político completamente diferente do nosso, e resolvem encaixá-lo aqui em 2014 para ver se cola. Ou seja, temos aí uma pérola da marquetagem política, pura retórica destinada mais a persuadir que esclarecer o eleitor.
Para citar Cazuza, são candidatos que se vendem como o futuro e repetem o passado. São museus de grandes novidades.
Se há algo verdadeiramente novo neste país é a revolução silenciosa pela qual estamos passando há mais de uma década. O novo é termos dado dignidade a mais de 50 milhões de brasileiros com o Bolsa Família, acabando com a extrema pobreza no território nacional.
O novo é o aumento da renda das famílias brasileiras em 78% nos últimos dez anos. É termos uma classe média que, no mesmo período, pulou de 37% para 55% da nossa população. O novo é termos alcançado, no ano passado, a mais baixa taxa de desemprego da nossa história.
Mudar é investir cerca de R$ 150 bilhões em obras de mobilidade urbana, pondo o Brasil para andar e oferecendo transporte público decente aos cidadãos. Mudar é agir para resolver os gargalos seculares de infraestrutura que estrangulam nossa economia e evitar que nunca mais voltemos à era dos apagões. É oferecer 4 milhões de moradias e levar mais de 13 mil médicos aos brasileiros necessitados de todos os cantos do país.
O novo é investir como nunca em educação. É transformar a riqueza finita do nosso petróleo em creches, escolas integrais e em vagas nas instituições de ensino superior e tecnológico, expandindo o acesso de jovens de forma sem precedentes na nossa história.
Mudar este país é dar a mais de 100 mil estudantes de todas as classes sociais o direito de complementar sua formação acadêmica nas melhores universidades do mundo.
Isso é que é o novo, isso é que é mudar o Brasil. São essas as ações que vêm revolucionando profundamente a nossa realidade, num trabalho sério em que o brasileiro virou agente ativo da própria transformação.
O resto é discurso frouxo de quem não tem nem o que propor nem o que mostrar. E é essa a avaliação que o cidadão conscientemente deve fazer sobre os destinos que pretende para o nosso país.
Humberto Costa, senador do PT-PE