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Discussão entre patrimônio e turismo cultural na Flip

Foto/Fernando Frazão

Alana Gandra

A presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Kátia Bogéa, abriu hoje (27) a participação da instituição na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), defendendo a criação de um modelo sustentável de gestão do patrimônio nacional. Este ano o Iphan completa 80 anos e promoverá uma série de eventos para debater sua atuação.

Kátia discutiu a questão da sustentabilidade do patrimônio com a população da cidade, gestores e representantes do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Ela chamou atenção para o fato de que atualmente, com a crise econômica que o país atravessa, é necessária a elaboração de um novo modelo financeiro de gestão.

“Nós temos que ter um modelo diferenciado, porque o dinheiro não está tão fácil. A restauração do patrimônio, principalmente o edificado, consome uma soma muito vultosa de recursos. Então, não adianta a gente ficar gastando dinheiro para recuperar aquele patrimônio, se não existe um estudo de viabilidade econômica para que aquele monumento, aquela cidade histórica possam atrair investimentos, possam mostrar um modelo de governança”, disse Kátia à Agência Brasil.

Kátia citou o caso do centro histórico de Paraty, cuja renda vem basicamente da indústria do turismo. Para ela isso é positivo, uma vez que o turismo cultural é o segmento que está mais em alta no mundo. Ela comparou por exemplo o caso da cidade de Cracóvia, na Polônia, onde esteve recentemente para reunião do Comitê do Patrimônio Mundial, que atrai cerca de 11 milhões de turistas por ano, enquanto o Brasil inteiro recebe apenas 6 milhões de visitantes estrangeiros/ano.

Na opinião de Kátia, o turismo cultural vai estar à frente do turismo regular, uma vez que os viajantes querem conhecer e consumir a cultura local. Neste cenário, o Iphan, a quem cabe proteger e preservar o patrimônio, deve trabalhar de forma conjunta com o Ministério do Turismo. “Paraty é um exemplo disso, porque não só tem o patrimônio cultural, mas também o patrimônio natural, que é muito explorado pelo turismo”.

Para a presidente do Iphan, o trabalho de preservação do patrimônio e do turismo deve ser feito de forma harmoniosa, mas destacou que a “essa convivência pode, sim, ser bastante benéfica para ambos os lados, sem que um consuma o outro”.

Kátia Bogéa disse que os projetos para restauração e preservação têm que ser sustentáveis, com governança, “essa responsabilidade com o retorno do dinheiro e, principalmente, com a manutenção da atividade porque, sem planejamento, não tem jeito”. Segundo a presidente do Iphan, é preciso, cada vez mais, “a gente não ficar dependendo de recursos esporádicos, mas ter um planejamento muito concreto, firme e bem feito, uma governança, ou seja, que todos os atores sentem à mesa e discutam esse modelo, porque senão, não vai funcionar”, assegurou.

80 anos
Dentro da Flip, foi aberta também exposição organizada pelo Iphan em parceria com os cidadãos de Paraty, incluindo fotografias do técnico do instituto, Oscar Liberal, que abordam a relação do patrimônio edificado com o dia a dia da população, além da exibição do vídeo Memórias Afetivas de Paraty. “Essa comunidade falando do patrimônio tanto de natureza material, como imaterial, seus festejos, todo o complexo cultural que é Paraty”, explicou Kátia.

A presidente do Iphan observou que uma sequência de obras de restauração serão entregues à população brasileira até o final do ano, como parte das comemorações pelos 80 anos da instituição. Ao longo do segundo semestre o Iphan vai realizar uma série de eventos em comemoração ao aniversário de 80 anos, entre elas exposições e um seminário internacional no Museu do Amanhã, em outubro, quando autoridades nacionais e estrangeiras do setor discutirão a política de preservação no mundo e o planejamentos do órgão para os próximos anos.

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