Sem folha corrida
Disputa pela OAB lembra campanha para vereador
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emBrasília, do alto dos seus 61 anos recém comemorados, está deixando de ser uma metrópole para virar uma cidadezinha provinciana, onde em época de eleição vale trocar voto por dentadura, prometer piso salarial e distribuir pares de mocassim – o pé direito na hora do acerto; o esquerdo, quando o resultado das urnas for conhecido. Ou seja, age-se mais como edil do que como quem circula em ambientes da mais alta magistratura.
Essa transformação, em pleno Século XXI, é consequência da disputa em torno do comando da Seccional do Distrito Federal da Ordem dos Advogados do Brasil. Hoje quatro nomes admitem estar na disputa, mas apenas um tem corrido, embora de forma estranha – algo do tipo edílico, e não etílico -, atrás de votos para a eleição que será realizada em novembro.
Afora nomes em processo de hibernação, oficialmente correm para ocupar a presidência da OAB-DF pelo próximo biênio os advogados Délio Lins e Silva Júnior (que tenta a reeleição), Everardo Gueiros (supostamente com as bênçãos do Buriti), Thaís Riedel, que vê a figura feminina cada vez mais respeitada e enaltecida; e, por fim, Guilherme Campelo, aquele que, embora seja considerado novato, tem o perfil e o vigor de grandes líderes da história da humanidade, que ainda adolescentes se fizeram faraós, reis e imperadores.
Dos quatro, o único que tem difundido ações de campanha é Everardo Gueiros, carinhosamente apelidado de Vevé. O candidato não para. Mascarado – como manda o atual quadro pandêmico -, ele tem visitado subseções da Ordem em algumas regiões administrativas. Nesses encontros, o advogado procura fechar apoios (como a história dos provincianos vereadores). Garante, por exemplo, ter os votos do Paranoá e Itapuã , como teria ouvido de Alexandre Silva, de Ângela Albuquerque e de Handerson Almeida.
Nesses encontros, Everardo Gueiros bate na tecla como qualquer opositor em disputa por cargo: “É preciso dar um outro ritmo à apagada OAB desses últimos dois anos”. Cutuca, assim, Délio Jr, no que já está sendo considerado um Fla-Flu entre conterrâneos na seara alheia. Na mesma saga em busca de votos, Vevé também foi a Águas Claras e Taguatinga. E haja promessas: devolver a advocacia ao lugar de destaque que perdeu na gestão Délio Lins e Silva “e resolver o descaso hoje enfrentado pela classe”.
Em Águas Claras e Taguatinga Everardo falou para o baixo clero da advocacia, que, segundo suas palavras, ‘vive em estado de calamidade’. O ponto alto da reunião foi a discussão sobre a situação de penúria enfrentada por alguns colegas de profissão. Quem ouviu isso, engolindo sem tempo de mastigar, mas mesmo assim dando tapinhas nas costas, foram Paulo Jozimo, Helena Moreira e Samuel Marçal .
Como no Jornalismo, no Direito e em outras profissões, também existem figuras inescrupulosas, que merecem o repúdio da categoria. Mas é entre advogados, principalmente, onde estão os donos da consciência pesada. Para defender seu cliente, advogado ataca a outra parte. E mesmo que inconscientemente, pode errar. Esse – é o que se comenta entre renomados juristas – foi o motivo de Everardo Gueiros ter ido a Samambaia, em mais uma das escalas da campanha provinciana. Naquela RA, após ter sua candidatura abraçada por Joana Darc, Elaine Rockenbach e Elder Leitão, Vevé discutiu e participou de uma campanha de arrecadação de produtos de higiene para mulheres encarceradas.
Entre muitos blogueiros e raríssimos jornalistas, as informações são de que Everardo Gueiros tem usado as redes sociais e feito parcerias com veículos para alavancar sua candidatura. E que usa o mundo como instrumento para virar presidente, como fez Jair Bolsonaro, que convenceu mas logo frustrou o eleitor. Os adversários de Vevé, claro, estão acompanhando seus passos. E já há quem defenda um pacto de não agressão. Se o acordo vingar, ninguém vai divulgar folha corrida de ninguém. Até porque, esse é o entendimento de todos, quem tem folha corrida é bandido, e não advogado.