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Disputa pela OAB sofre golpe moral com ingerência direta de Ibaneis

Imagine um campo de batalha onde as forças em disputa são as ideias e os valores. De um lado, a independência, a autonomia; do outro, a força do poder político, pronto para intervir. A cena que se desenha é a disputa pela direção da OAB-DF, entidade representativa de profissionais do campo do Direito. Uma classe que, por essência, busca o equilíbrio entre a lei e a justiça.

Contudo, nesse embate, um novo ator surge: o governante, que deveria ser o guardião imparcial das instituições, mas agora usa sua posição para interferir e influenciar o resultado. Ao manifestar, como fez, apoio público ao seu compadre Cleber Lopes, Ibaneis Rocha, que assina atos de cargos comissionados no Governo do Distrito Federal, parece querer transportar para a sucessão de Jr o poder da caneta.

A moralidade desse gesto é a primeira vítima. Ao tomar partido, o governador, que já presidiu a Ordem, rompe o véu da neutralidade que deveria resguardar sua conduta. Teme-se que a OAB, por mais tropeços que colecione, se antes gozava de autonomia e representava, com um certo grau de independência, os interesses de seus profissionais, agora se vê sob ameaça de se transformar em um mero apêndice, um “puxadinho” do Palácio do Buriti numa hipotética vitória de Cleber Lopes .

Causou surpresa a Notibras, como de resto, supõe-se, aos demais veículos de comunicação e à própria classe dos advogados, a intempestiva manifestação do governador. Nossos repórteres silenciaram até aqui, na expectativa de ver um recuo de Ibaneis, que, como governante, esbarra em problemas cruciais para administrar a capital da República. Mas, com a proximidade (dia 24) do lançamento oficial da chapa verde, que tem muitos advogados maduros, observa-se que a pluralidade de opiniões e o debate de ideias correm o risco de serem substituídos por um cenário monolítico, onde só há espaço para as diretrizes impostas pelo poder central.

O prejuízo não é apenas institucional, mas também moral. Profissionais que dedicaram anos de suas vidas ao estudo e à prática do Direito veem sua voz abafada por decisões políticas que têm pouco a ver com o interesse público. A confiança na imparcialidade das instituições começa a desmoronar, e, com ela, a própria base da justiça se enfraquece.

Por trás dessa manobra, esconde-se uma estratégia bem conhecida: enfraquecer a independência das entidades representativas para consolidar o controle. Ao moldar a liderança dessas organizações conforme sua conveniência, o governador parece abrir caminho para um poder menos contestado, onde as resistências à sua vontade se dissolvem em uma submissão tácita. A OAB corre o risco de transformar-se num braço operativo das vontades políticas, muitas vezes em detrimento dos próprios profissionais que representa.

Em um cenário assim, é fácil perceber o impacto de longo prazo. A autonomia de entidades como a Ordem dos Advogados do Brasil não é apenas um princípio abstrato; é uma garantia de que os interesses de cada profissional, não serão submetidos a interesses menores. Quando essa autonomia é minada, perdem todos aqueles que contam com uma sociedade justa, equilibrada e, acima de tudo, livre de pressões políticas indevidas.

O governador, ao se lançar nesse caminho, pode até obter ganhos imediatos, uma vez que, indiretamente, estará mandando onde já mandou. Contudo, o preço que paga é alto: a corrosão moral de suas ações reverbera, enfraquecendo não apenas uma OAB que deveria ser independente, mas também a confiança da sociedade na integridade de suas instituições. E, no fim das contas, essa é uma perda que ninguém deveria estar disposto a suportar.

O número de locomotivas que arrastará o trem da alegria para a festa do lançamento da candidatura de Cleber Lopes, servirá de termômetro para os passos que vierem pela frente. Um deles é uma eventual impugnação de chapa, por campanha eleitoral antecipada e abuso explícito de poder. Se não econômico, com certeza, político.

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