A síndica sem noção
Dissimulada, reacionária, usa e abusa sem pagar nada
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A síndica sem noção é profissional. Quer dizer apenas que não é condômina e recebe um salário. Acabou de fazer um estágio aligeirado onde aprendeu a ter fala mansa e dissimulada. Dá cada desculpa esfarrapada que ninguém que pague o condomínio regularmente merece.
Mas o pior de tudo é que pratica o falso testemunho e faz intrigas entre moradores e funcionários para se isentar de apresentar soluções aos problemas corriqueiros do condomínio. Persegue mulheres divorciadas.
Pratica racismo. Mas o mais inusitado foi como ela entrou em campo no caso do funcionário que pisou na bola contra uma condômina idosa e com problemas de mobilidade.
Há em cada bloco, um local onde o lixo é depositado pelos próprios moradores. O acesso, é portanto, livre aos condôminos, mas fica próximo da saída de serviço.
No segundo mês do ano, a administradora já dispensara (ou perdera) um zelador e contratou uma pessoa com necessidade de atendimento psiquiátrico.
Devido a seu comprometimento psíquico entendeu que devia disciplinar uma idosa impedindo-a de se dirigir ao estacionamento de seu carro e aproveitar a saída de serviço para jogar o lixo como fazem todos os moradores, há anos seguidos.
O zelador tentou impedi-la com seu corpo, tentando dar-lhe uma rasteira.
Felizmente, a senhora conseguiu usar a bengala para detê-lo. Como conseguira? Instinto de sobrevivência ou graças aos exercícios que faz duas vezes por semana na Hidroginástica da Universidade?
Ele reclamou bem alto, como menino que grita no jogo de futebol porque perdeu o lance.
– Coitado! – disse a síndica ao saber do ocorrido. – Perder o lance para uma idosa manca! Deprimente!
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Edna Domenica – Paulistana, bacharel em Letras, pedagoga e psicóloga, desenvolveu pesquisa sobre Psicodrama e suas aplicações em oficinas de escrita criativa, parcialmente publicadas em Relógio de Memórias (Postmix, 2017). É autora de A volta do Contador de Histórias (Nova Letra, 2011), No Ano do dragão (Postmix, 2012), As Marias de San Gennaro (Insular, 2019), O Setênio (Tão Livros, 2024).
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