O Brasil comandado pelo capitão Jair Bolsonaro está fora de órbita. O que dizer do governo? Tudo ou quase nada. Nesta quarta (19), dia D e hora H do general Eduardo Pazuello, sentado na cadeira elétrica da inquisição, ele deve estar se perguntando sobre as razões para ter aceitado o Ministério da Saúde em meio a uma crise sanitária sem precedentes. Pior é que ele estava consciente de que não teria – como não teve – autonomia alguma para tocar a pasta. Aliás, nenhum dos seus antecessores conseguiu essa proeza. Pazuello ainda teve de se desculpar publicamente por um compra sem consulta ao mestre. Quanto a indagação do ex-ministro, o tempo e o relatório final da CPI da Covid darão as respostas. A verdade que ecoa pelo país é singular: na raiz quadrada do Executivo, poucos ainda lembram que o mundo é mesmo redondo.
É fácil provar que estamos no mundo da lua. É como se estivéssemos realizando uma trajetória curva em torno de nós mesmos. Tanto que despertei com a informação de que boa parte da sociedade havia reivindicado ponto facultativo para assistir Pazuello na CPI. Nem o velório e sepultamento de Ayrton Senna ou dos integrantes do Mamonas Assassinas mereceram tamanho desejo. Mas vamos aos fatos explicativos a respeito do Brasil solto no espaço. Não lembro de ter visto o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) circulando tanto pelos plenários do Senado como nesses últimos dias. Ele não é membro efetivo nem suplente da CPI da Covid, mas tem atuado com desenvoltura no colegiado. Com o braço na tipoia, virou bombeiro do governo. Ora advoga para depoentes, como fez com Fábio Wajngarten, ora “escolta” convocados, como fez hoje com Pazuello.
Nessa loucura em que se transformou a Terra Brasilis, o vereador pelo Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro normalmente despacha em Brasília. Ex-secretário de Comunicação da Presidência da República, o jornalista Fábio Wajngarten virou comprador – no mínimo negociador – de vacinas do laboratório Pfizer. De passado e presente nebulosos (quase negros), o senador Renan Calheiros (MDB-AL), relator da CPI, está pensando em requerer canonização ao papa Francisco. Mesmo com o incansável trabalho de correligionários, talvez Renan não consiga o tão sonhado título de santo por uma razão bastante simplória. Argentino de berço, Jorge Mario Bergoglio (o papa Francisco) traz no sangue a máxima de amar odiar brasileiros. Brincadeiras à parte, Francisco acompanha de perto “as dores do povo”.
Em vídeo gravado para a 7ª. Congregação Geral do Sínodo dos Bispos para a Amazônia, o Sumo Pontífice não poupou tinta ao criticar as limitações políticas, sociais e ecológicas da nação descoberta por Cabral. Voltando ao Brasil desorbitado, quem imaginaria Lula livre e liberado pelo Supremo Tribunal Federal para disputar as eleições presidenciais de 2022? Mais do que isso. Quem em sã consciência – esquerdopata ou não – sonharia com Luiz Inácio liderando todas as pesquisas de intenção de votos. Mais relevante é vaguear por supermercados, farmácias e botecos e concluir que, entre a honestidade verde e amarela (às vezes oliva) e os processos ainda inconclusos, o povão tende a optar pelo lá lá lá.
Não temos vacinas nem insumos. Nossa economia é uma das mais frágeis do continente. Apesar disso, o mandatário produziu um pacotaço de benefícios para caminhoneiros. Só um agradozinho para um segmento que tanto lhe quer bem. E o que dizer da gripezinha? “Inventada” pelo presidente quando a pandemia já assustava o mundo, em março de 2020, o então novo coronavírus (hoje é mais do que velho) transformou 439,1 mil brasileiros em números e infectou outros 15,7 milhões. O que mais falta acontecer ao país? Nada. Pelo sim pelo não, faço minhas as palavras do biólogo e pesquisador Átila Iamarino. Segundo ele, pode parecer absurdo (e é) alguém se esfregar com estrume de vaca para fugir da Covid. “Mas, do ponto de vista da eficácia, fazer isso e tomar cloroquina ou ivermectina tem o mesmo efeito: nenhum. O esterco pelo menos garante o distanciamento”. Oxalá consigamos sobreviver. Hoje, está é nossa principal fonte de felicidade.