Kleber Ferriche
Na quinta-feira 26, o Tribunal de Contas do Distrito Federal aprovou, com ressalva, as contas de 2016 da administração Rodrigo Rollemberg no Governo de Brasília. A ressalva em questão é um parecer técnico que os conselheiros têm obrigação de editar, quando algo está fora dos trilhos na contabilidade governamental.
Não é pouca coisa. Essa lupa sobre as contas identificou a utilização de recursos do Instituto de Previdência dos Servidores – Iprev, em dois saques que não foram ressarcidos. Como o Buriti não ouve a palavra aprovação há muito tempo, essa decisão do TCDF foi comemorada com entusiasmo e pompa.
Diz o ditado popular, é bom lembrar, que desgraça pouca é bobagem. E quando o Tribunal de Contas diz que a operação do Iprev feita por Rollemberg foi desaprovada, então entra em cena outro tribunal: a Câmara Legislativa, que é a responsável por editar a sentença final.
Quem deu pulinhos de alegria, pode agora dar saltos e perder o chão. Na CLDF, 24 entre 24 deputados distritais não querem saber de Rollemberg.
O confronto do Palácio do Buriti com os representantes da sociedade brasiliense teve início nos primeiros meses de 2015, logo após o governador tomar posse. As divergências entre o Executivo e o Legislativo provocaram a queda prematura de Hélio Doyle, secretário de Governo que não tolerou a ideia de aproximação com seus juízes distritais e criou uma barreira, hoje, intransponível.
Apelidado maldosamente de Doyle, o breve, a herança deixada por ele pode massacrar o governador e torná-lo inelegível. Nada como um dia após o outro, provável leitura que faz Joe Valle, presidente da Câmara um dos últimos apoiadores de Rollemberg a abandonar o trem para descer na estação onde está a cadeira mais importante do Distrito Federal.
Anunciado como pré-candidato à vaga do governador, o algoz Valle está de olho também nos trilhos que o TCDF não encontrou no caso do IPREV. Pior: entre os deputados distritais, existem aqueles eleitos exatamente pelos servidores públicos do GDF, que querem saber onde está o dinheiro deles para uma aposentadoria magra, remédios, alimentação, habitação, órteses e próteses.
Rodrigo Rollemberg deixa uma lição, justiça seja feita. Práticas antigas, como composições pouco republicanas, promovidas por governadores populistas com parlamentares ao longo dos anos, ou o enfrentamento aberto incentivado por Doyle, o breve, que não ajudam a sociedade candanga.
Hélio Doyle, aliás, além de reconhecido jornalista é um frequentador de muitos governos que vão de A a Z. Ninguém até agora encontrou o caminho do meio.
Políticos tradicionais e assanhados com a impopularidade do atual governador, devem tomar um chá de camomila. Certamente nos próximos meses, o motor que empurra a locomotiva bilionária GDF, que é a sociedade, poderá tirar do comando o atual condutor, retirar da janela aqueles que praticam atalhos e entregar a composição a alguém preparado para emergências estratégicas. Porque a situação é de guerra em todos os setores. E esse perfil não passa pelos cofres da banca financeira nem pelo funil de uma nota só, que é a saúde, nem pelo apelo vazio de famílias de drogados nem pelas guitarras da juventude nem por reagentes químicos.
Esses apelos estarão reunidos e clamando por um comando probo e pragmático. E pela recomposição da moral e dos princípios. Velhos hábitos, derrotas previsíveis. E velhos hábitos é o que impera em um Estado sofrido, que recebe o lixo nacional político, dá casa, comida e roupa lavada. Tem também Lamborghinis embarcadas no trem.
Se a comunicação do próximo governador não for tão incompetente quanto à dos governadores populistas defenestrados e do atual, então haverá um novo horizonte para os habitantes do Distrito Federal.
O Brasil é o País do futebol. Haverá um Fla x Flu nunca antes registrado nas próximas eleições ao Buriti. Tomara que o time vencedor não seja apenas produto de um voto útil, mas uma releitura por parte do eleitor de que o Distrito Federal pode ter jeito nos próximos 20 anos, tempo mínimo para consolidar questões de Estado, como transporte, educação, segurança, habitação, saúde.
Setores que serão comparados, caso não haja interrupção, a países europeus. Todos desejam isso e alguém precisa inaugurar um novo tempo. Não será um político viciado, oportunista, velhaco, inexpressivo, que poderá realizar um projeto decente e impor prioridades.
Até agora, só encontramos o mesmo do mesmo. Em 2018, o DF vai dar uma lição ao Brasil, porque a sociedade aqui é preparada e não suporta mais a importação de Lava-Jatos. Todos aqui querem dar um adeus à velha política. Portanto, adeus! Só não pretendo morar em Veneza, como foi obrigado a fazer Diogo Mainardi.