Que futuro pode ser desenhado por um país que elege um cidadão reconhecidamente de imaginação furiosa, amarga e voltada para o mal? Pior é quando o eleito se antecipa e anuncia como colaborador de coxia um sujeito cruel, arrogantemente perverso e tão insano como o “patrão”. Resultado da mesma mandioca estragada, Donald Trump e Elon Musk foram escolhidos para comandar os ideais, a economia, a saúde, a educação, a soberba e a superioridade dos Estados Unidos e de seu povo. Deus salve a América!
O problema é que, a pretexto de salvar os norte-americanos da ira de boa parte do mundo, ambos pensam e agem como se fossem os donos do planeta. Eles até parecem ser, mas não são, apesar de os poderosos assentos lhes pertencerem até 2029 ou até quando o povo de lá perceber que o sonho dourado não passava de um negro pesadelo. Propor uma limpeza étnica em Gaza, expulsando os palestinos e assumindo o controle da região, não é uma proposta de um ser humano normal. Pelo contrário.
É tão anormal como deportar milhares de pessoas que nada têm a ver com suas querelas pessoais ou impor tarifas escorchantes exclusivamente para alcançar boas oportunidades em novas relações comerciais e cortar doações humanitárias para mais de 100 países. E o que dizer para os estadunidenses que preferiram apostar no caos. O mesmo que já disse aos brasileiros que até hoje se referem a Jair Bolsonaro como o “Trump tropical”. Embora aceite escolhas boas e ruins, disse e repito que uma escolha errada pode mudar todas as decisões certas que seguimos durante toda a vida.
Assim como Bolsonaro em 2018, Donald Trump foi eleito democraticamente. Ou seja, pelo menos parte do eleitorado apostou nele, obrigando os contrários a seguir em frente, esperar tempo bom e torcer para que a escolha não transforme avanços em retrocessos. É assim em qualquer democracia sem ranço e poderia ter sido assim no Brasil, onde a maioria do eleitorado preferiu optar pela liberdade verdadeira e respeitosa. As mentiras, o radicalismo e o ódio gratuito pelos diferentes foram jogados na latrina antipatriótica dos que defenderam a conquista do poder pela força.
Resumindo, um trem de mil vagões apinhados de votos não dá a presidente algum o direito de perseguir adversários, muitos menos de xingar, adjetivar e ameaçar aqueles que preferiram votar nulo, em branco ou no candidato oponente. São as tais escolhas. A vida não é um rio. Por isso, nem sempre a humanidade caminha na mesma direção. Longe dos EUA, o Brasil precisa de muitas coisas. A principal delas é que o povo não desista dele. Queremos um país onde as diversidades possam caminhar de mãos dadas. Ainda estamos longe, mas, com ou sem Bolsonaro, que 2026 chegue com menos emocionalismo e mais praticidade.
Que os Estados Unidos de Trump sejam sempre vistos como um péssimo exemplo. Hoje, eles não são o melhor para o Brasil. Devemos entender de uma vez por todas que o fanatismo político é a antítese da racionalidade, levando as pessoas a normalmente aceitar informações tendenciosas e a rejeitar fatos objetivos. Seja à direita ou à esquerda, o estrelismo deve ser considerado uma doença. Desde que com fins democráticos, até a loucura merece crédito. Afinal, a verdade humana é uma só: somos todos loucos. Nos EUA, no Brasil e em qualquer parte do mundo globalizado inaceitável é quando um mandatário resolve fazer da loucura uma diversão. Tipos como esse têm de ser deletados do rascunho antes que o desenho final do país fique pronto.
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Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978