Espécie em extinção
DNA ajuda a prender caçadores de rinocerontes
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emUm sistema inovador desenvolvido por cientistas para rastrear amostras de DNA de rinocerontes – e utilizá-las como provas forenses – está ajudando as autoridades de países africanos a colocar na cadeia os criminosos envolvidos no massacre e tráfico desses animais.
O sistema, batizado de Rhino DNA Index System (RhODIS, na sigla em inglês) associa uma nova metodologia de amostragem de DNA a um kit capaz de rastrear o percurso dos produtos feitos a partir do chifre dos rinocerontes. Os resultados da aplicação do sistema nas investigações foram descritos em um artigo publicado nesta segunda-feira, 8, na revista científica Current Biology.
A nova técnica já foi utilizada na investigação de mais de 5,7 mil crimes e, em mais de 120 casos, conseguiu ligar cadáveres individuais de rinocerontes assassinados, na cena do crime, aos produtos apreendidos com criminosos – muitas vezes fora da África. Com isso, o sistema produziu provas forenses que levaram à prisão os criminosos.
“Ao contrário de trabalhos semelhantes nos quais as bases de dados genéticos fornecem uma indicação de origem geográfica, o RhODIS fornece combinações individuais entre as amostras, de forma semelhante ao perfil de DNA humano. Por isso ele pode ser utilizado como prova direta em casos de julgamento criminal”, disse uma das autoras do estudo, Cindy Harper, da Universidade de Pretoria, na África do Sul.
Os sistema foi aplicado a casos ocorridos na África do Sul, Zimbábue, Namíbia e Quênia, envolvendo rinocerontes-negros (Diceros bicornis) e rinocerontes-brancos (Ceratotherium simum). Em termos de risco de extinção, as duas espécies aparecem na lista da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês) como “em perigo” e “quase ameaçada”, respectivamente.
A matança de rinocerontes chegou a proporções desastrosas na última década na África, quando foram mortos mais de 7 mil animais. Os rinocerontes são caçados por causa de seus chifres, aos quais são atribuídas supostas propriedades medicinais.
Na África do Sul, país que concentra 70% dos menos de 30 mil rinocerontes restantes no planeta, foi registrada a perda de 13 rinocerontes em 2007. Em 2008, o número subiu para 83. Em 2015, já chegava a 1.215. Só no Parque Nacional Kruger, onde há 9 mil rinocerontes, os criminosos matam, em média dois ou três por dia, segundo os cientistas.
Para calcular a probabilidade de uma correspondência entre uma prova de DNA confiscada e um animal morto na cena do crime, os cientistas se basearam na frequência de determinados alelos – as formas alternativas de um mesmo gene – calculada a partir de uma base de dados genéticos de 3.085 rinocerontes-brancos e 883 rinocerontes-negros.
As análises mostraram o sistema permite rastrear, de forma confiável, o perfil de DNA de um animal específico, extraído de qualquer tecido apreendido: chifres, amuletos, pós feitos a partir dos chifres, ou simplesmente objetos com marcas de sangue do animal.
O artigo publicado pelos cientistas detalha nove casos nos quais o DNA mostrou correspondência entre os objetos apreendidos e animais encontrados mortos. Essa prova foi usada para processar, condenar e sentenciar criminosos que mataram ou encomendaram a morte de rinocerantes. Um dos casos, envolvendo três chifres e tecidos de duas carcaças de rinocerontes resultou em uma sentença de 29 anos de prisão.
O conjunto de dados do RhODIS também ajudou os cientistas traçarem um quadro mais preciso das populações de rinocerontes, segundo Cindy. Com base nos dados, por exemplo, foi possível classificar os rinocerontes brancos e negros em identificar três subespécies de rinocerontes-negros. As informações sobre a estrutura das populações podem também ajudar os investigadores a refinar as buscas por carcaças específicas ligadas a chifres apreendidos.
Como os chifres frequentemente são levados com extrema rapidez da cena do crime para os países consumidores, os cientistas afirmam que a investigação, amostragem e análise de provas forenses deve ser diligentes e coordenadas internacionalmente.
Segundo Cindy, na África do Sul, felizmente o programa conseguiu um forte apoio das autoridades locais de proteção da fauna, do governo nacional, dos serviços policiais, dos parques nacionais e da maioria dos estados onde vivem os rinocerontes.
“Graças a esse apoio, nós tivemos um crescimento rápido da base de dados, que se transformou em uma fonte representativa dos dados genéticos de rinocerontes, tanto para aplicações forenses como para aplicações de gestão. Essa cooperação e esse apoio sem precedentes das autoridades ao programa foi surpreendente e animadora”, afirmou Cindy.
Os casos descritos no estudo, de acordo com a pesquisadora, mostram que os dados forenses sobre espécies da vida selvagem que está sob grave ameaça de caça ilegal e tráfico podem ser aplicados entre as fronteiras para ajudar na investigação e na condenação de criminosos.
A esperança, de acordo com Cindy, é que o risco cada vez maior de prisão e condenação, com sentenças severas, ajude a reduzir os incentivos para negociar produtos ilegais extraídos de animais selvagens.
Segundo os cientistas, a base de dados do sistema RhODIS continuará a crescer a cada nova amostra que for acrescentada. “Com o uso de dados genéticos para gerenciar melhor as populações remanescentes de rinocerontes, esse esforço i